Depois de 15 dias prestando atendimento médico e cirúrgico à população indígena de Vila Nova do Xié, localizada na região de São Gabriel da Cachoeira, no estado do Amazonas, os Expedicionários da Saúde encerram mais uma expedição comemorando mais de 1000 cirurgias realizadas desde que a Ong foi fundada. Mas o trabalho ainda não encerrou, pelo menos sem antes cumprir o que prometeram a uma paciente indígena: realizar uma cirurgia de recapeamento do quadril, permitindo que a índia volte à sua rotina normal de trabalhos.
A técnica, considerada uma das maiores novidades na área ortopédica para o tratamento da artrose do quadril, será aplicada sem que haja nenhum custo para a paciente. A índia Cecília da Silva Brito, 54 anos, pertencente a tribo dos Cubeu, já está na cidade de Campinas, interior do estado de São Paulo. A cirurgia será realizada nesta sexta-feira, dia 9 de maio, às 13h, no Centro Médico Campinas.
Essa foi a nona expedição realizada pelos médicos que já beneficiaram cerca de 16 mil pessoas das regiões de Iauaretê, Pari Cachoeira, Tunuí Cachoeira e Vila Nova do Xié, no Alto do Rio Negro, quase na fronteira com a Colômbia. De acordo com Ricardo Affonso Ferreira, um dos idealizadores do Programa Operando na Amazônia dos Expedicionários da Saúde, houve um crescimento significativo na média de cirurgias por expedição. “Desde que passamos a utilizar o Centro Cirúrgico Móvel o número cirurgias dobrou e continua crescendo a cada nova expedição. Além de duas equipes cirúrgicas que operam durante todo o dia, contamos com o excelente trabalho realizado pelas equipes de saúde locais que selecionam previamente os pacientes de diversas comunidades e organizam a ida deles até os locais das expedições”, afirma Ricardo.
Montado pela primeira vez em novembro de 2005, o Centro Cirúrgico Móvel possui as mesmas condições de trabalho dos melhores hospitais do mundo. Trata-se de uma tenda de 35 m2 especialmente adaptada, com estrutura metálica, isolada termicamente e com dois aparelhos de ar condicionado. Entre os equipamentos estão monitores cardíacos, tubos de oxigênio para emergências e modernos bisturis elétricos, que cauterizam imediatamente o corte. Os aventais e campos cirúrgicos são descartáveis e os instrumentos esterilizados a 130 graus Celsius , numa central de esterilização especialmente montada para esse fim. Uma farmácia completa garante os medicamentos necessários para um completo atendimento médico e cirúrgico.
Essas intervenções cirúrgicas possibilitam a reintegração do indígena a sua rotina na comunidade, muitas vezes interrompida por exemplo pela perda de visão em função de uma catarata ou a impossibilidade de carregar peso por causa de uma hérnia.Casos mais complexos são encaminhados ao hospital local mais próximo.
Sobre os Expedicionários da Saúde
A idéia da expedição surgiu em 2002, quando um grupo de amigos formado por médicos e executivos, em viagem ao Pico da Neblina (AM) tiveram a oportunidade de conhecer uma aldeia Yanomami e foram confrontados com uma realidade muito diferente da que viviam. Surgiu então a idéia de usar toda a experiência profissional deles para melhorar a qualidade de vida da população indígena daquela região. E para isso buscaram entender a cultura local com a ajuda de antropólogos e procuraram as instituições responsáveis pelo atendimento à saúde na região para entender como atuavam e assim planejar uma atuação conjunta para somar esforços. Assim, em 2003 foi oficialmente estruturada a Associação Expedicionários da Saúde .
O grupo tem apoio do Comando Militar da Amazônia, que garante o transporte da equipe desde Manaus até um ponto de apoio em aviões da Força Aérea Brasileira (FAB). Uma das grandes dificuldades é o acesso aos locais de atendimento, que tem de ser feito por barcos. Também há uma forte parceria com os DSEIs – Distritos Sanitários Especiais Indígenas , Funasa e Funai , mas todo trabalho só é viabilizado em função de patrocinadores importantes que a cada expedição, contribuem com doações materiais, em serviços e financeiras.