A Neisseria Meninigitidis, principal agente causador de meningites bacterianas, ficou 12,6% mais resistente aos antibióticos penicilina e ampicilina em um período de dois anos. É o que aponta recente estudo da Secretaria de Estado da Saúde com base em análises realizadas no Instituto Adolfo Lutz, órgão da pasta.
Foram examinadas 1.096 cepas, isoladas de casos de meningite de todo o Brasil entre os anos de 2006 e 2008 e submetidas ao teste de Concentração Inibitória Mínima, segundo metodologia internacional. Os resultados mostraram que a resistência intermediária da bactéria à penicilina passou de 13,5% em 2006 para 15,1% no ano passado. No caso da ampicilina a variação foi similar, de 13,4% para 15,1%.
O aumento da resistência intermediária mostra que, embora os dois antibióticos possam ser usados para o tratamento de meningites bacterianas, seriam necessárias doses maiores para combater a doença. A sensibilidade diminuída à penicilina também vem sendo registrada em outros países. Nos EUA, a resistência intermediária é de 4%, mas na França chega a 30%.
O resultado do estudo pode estar ligado a fatores como a prescrição indiscriminada de antibióticos, à auto-medicação e em, alguns casos, à utilização inadequada de fármacos mais novos e de maior espectro. “O uso desnecessário ou incorreto de antimicrobianos pode favorecer esse quadro, porque o medicamento mata as cepas sensíveis e seleciona as resistentes”, afirma Maria Cecília Outeiro Gorla, pesquisadora do Adolfo Lutz e uma das responsáveis pelo trabalho.
No trabalho desenvolvido pelo instituto não foi observada resistência das cepas de Neisseria Meninigitidis às cefalosporinas de terceira geração, que são derivadas sintéticas da penicilina, e também usadas no tratamento de meningites bacterianas. Mas a pesquisadora alerta que o aumento da resistência intermediária verificado no estudo pode representar uma tendência, o que exige constante monitoramento.
O Adolfo Lutz realiza a vigilância contínua da resistência antimicrobiana do meningococo, para a detecção precoce de mudanças no perfil de suscetibilidade das cepas, o que pode auxiliar na tomada de decisões quanto às recomendações para o tratamento e prevenção da doença.
Em 2008 foram registrados no Estado de São Paulo 3.138 casos de meningite bacteriana, o que representa diminuição de 22,3% em relação às 4.035 ocorrências registradas em 2006.