Mudança de percepção no mercado financeiro reflete a consolidação política do presidente, fortalecida por vitórias internacionais, diálogo com evangélicos e desorganização da direita
Por Sandra Venancio
São Paulo — O cenário político brasileiro passou por uma reviravolta no principal centro financeiro do país. Segundo informações do jornalista Guilherme Amado, publicadas no site PlatôBR, a Faria Lima — tradicional reduto de resistência a governos progressistas — já discute abertamente a possibilidade de reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro turno, impulsionada pelo enfraquecimento do bolsonarismo e por uma estratégia política que vem ampliando o apoio ao presidente.
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Nos bastidores do mercado, banqueiros e investidores que há poucos meses apostavam em uma candidatura competitiva da direita passaram a avaliar que Lula não apenas mantém liderança confortável nas pesquisas, como também reúne condições políticas para uma vitória definitiva ainda no primeiro turno de 2026.
A mudança de percepção é atribuída a uma combinação de fatores políticos e econômicos: a crise do bolsonarismo, a reorganização diplomática do Brasil e a aproximação gradual de Lula com setores evangélicos e empresariais antes refratários ao governo.
Diplomacia e realinhamento internacional
A política externa também tem peso nessa guinada. Em meio à tensão com Washington, Lula conseguiu reposicionar o Brasil no debate global, adotando um discurso de soberania nacional que repercutiu positivamente em fóruns internacionais.
Durante a Assembleia Geral da ONU, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, surpreendeu ao afirmar ter “excelente química” com Lula — e, segundo o PlatôBR, ambos chegaram a conversar por telefone, acertando uma reunião entre seus chanceleres. O encontro entre Marco Rubio e Mauro Vieira, em Washington, foi descrito como “cordial” e marcou um gesto de distensão diplomática, interpretado por analistas como vitória política do governo brasileiro.
Desorganização da direita
Enquanto o Planalto consolida sua base, a direita enfrenta fragmentação e perda de fôlego. Nomes antes vistos como alternativas — como Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Ratinho Júnior (PSD) — enfrentam crises locais e falta de unidade. O desânimo nas fileiras bolsonaristas tem sido percebido até por antigos aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, hoje isolado e com futuro político incerto.
Faria Lima em sintonia com o pragmatismo
O discurso antigovernista perdeu espaço na Faria Lima. “O mercado percebeu que Lula estabilizou a economia, manteve o arcabouço fiscal e reconstruiu a imagem do Brasil no exterior”, avalia um analista político ouvido pela Fórum. A percepção de estabilidade e previsibilidade tem sido suficiente para reduzir a resistência ideológica que dominava o ambiente financeiro desde 2022.
Um novo consenso?
A convergência entre pragmatismo econômico e fortalecimento político leva investidores a um diagnóstico inédito: Lula pode vencer no primeiro turno. O que antes soava como especulação agora entra nas projeções de consultorias e mesas de operação, refletindo uma realidade em que o bolsonarismo perdeu sua capacidade de mobilização — e o presidente, com capital político renovado, volta a dominar o tabuleiro.