Menos da metade das exportações brasileiras aos EUA enfrenta alíquota máxima de 50%; especialistas dizem que setores redirecionam commodities e minimizam prejuízos
Por Sandra Venancio – Foto Mark Garten via Fotos Públicas
Dois meses após o início do tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o impacto sobre a economia brasileira tem sido praticamente irrelevante, segundo levantamento divulgado pela Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil) com base em dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic).
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De acordo com o estudo, 44,6% das exportações brasileiras aos EUA estão sujeitas à alíquota máxima de 50%, 29,5% enfrentam sobretaxas menores e 25,9% estão isentas.
“Os produtos-alvo de alíquota máxima são commodities, como café, carne e açúcar, que têm mais facilidade para redirecionar as vendas a outros países”, explicou Fabrizio Panzini, diretor de Políticas Públicas e Relações Governamentais da Amcham Brasil.
Xadrez tarifário
Desde abril, Trump vem aplicando tarifas recíprocas e adicionais sobre importações, em alguns casos chegando a 50%. Os setores de aço, alumínio, cobre, automóveis e autopeças foram enquadrados em tarifas baseadas na Seção 232 da Lei de Expansão do Comércio dos EUA, que permite sobretaxas sobre bens considerados estratégicos à segurança nacional.
Apesar da avalanche de medidas, as exportações brasileiras cresceram 1,6% entre janeiro e agosto em comparação ao mesmo período do ano passado — resultado sustentado pelo bom desempenho do primeiro semestre. Em agosto, no entanto, houve queda de 18,5% nas vendas.
Reação do setor produtivo
Empresas e entidades industriais afirmam que estão reorganizando fluxos comerciais para evitar perdas mais severas.
“Empresas que direcionavam a maior parte das suas exportações para os EUA vão redistribuir esses produtos para outros países. Há uma reestruturação em curso no mercado internacional”, afirmou Cristina Zanella, diretora da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos).
Representantes brasileiros também tentam negociar exceções junto ao governo americano. Empresários como Joesley Batista, da J&F, se reuniram com Trump para discutir a taxação de 50% sobre a carne, um dos principais itens afetados.
O tributarista Leonardo Briganti, sócio do Briganti Advogados, avalia que o tarifaço teve efeito mais negativo para os próprios EUA.
Segundo Briganti, o governo Trump já planeja um pacote de US$ 10 bilhões para socorrer o agronegócio norte-americano, especialmente os produtores de soja, impactados pela escalada tarifária.
Impactos regionais e no emprego
Apesar do impacto macroeconômico limitado, indústrias exportadoras específicas têm sofrido com a alta de custos e queda nas vendas.
A Randa, fabricante de madeira no Paraná, registrou queda de 30% no faturamento e demitiu 200 funcionários, além de colocar outros 600 em férias coletivas.
Na Engemasa, fundição paulista de aços inoxidáveis, estoques parados e retração de pedidos levaram à redução de 10% do quadro de funcionários.
Mesmo com casos pontuais de retração, analistas apontam que o Brasil tem conseguido absorver o impacto do tarifaço americano, mantendo a competitividade internacional em setores-chave e diversificando destinos de exportação.




