Encontro com Samuel Ferreira reforça aproximação com lideranças evangélicas no mesmo dia em que o presidente define o novo ministro do Supremo Tribunal Federal
Por Sandra Venancio
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu, nesta quinta-feira (16), no Palácio do Planalto, o bispo Samuel Ferreira, líder da Assembleia de Deus de Madureira, uma das maiores denominações evangélicas do país. O encontro contou com a presença do deputado federal Cezinha de Madureira (PSD-SP), do advogado-geral da União Jorge Messias e da ministra de Relações Institucionais Gleisi Hoffmann.
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Em publicação nas redes sociais, Lula descreveu o encontro como “especial, de emoção e fé”, destacando o papel social e espiritual da Assembleia de Deus.
“Pude reiterar a relação de respeito que tenho pela Assembleia de Deus e o relevante trabalho espiritual e social promovido pela igreja”, escreveu o presidente.
Lula afirmou ainda que o diálogo foi pautado por valores cristãos, “como respeito, fraternidade e apoio às famílias”, e agradeceu os presentes que recebeu — a Bíblia do Culto do Ministro e a edição de ouro do Centenário de Glória da Igreja — além da oração em sua proteção e pelo Brasil.
O gesto é visto por analistas políticos como parte da estratégia do governo de se reaproximar de segmentos evangélicos, fundamentais para o equilíbrio político em temas morais e eleitorais, sobretudo após as divergências com a base religiosa durante a campanha de 2022.
Lula escolhe Jorge Messias para o Supremo Tribunal Federal
No mesmo dia do encontro religioso, Lula decidiu indicar o advogado-geral da União, Jorge Messias, para ocupar a vaga deixada por Luís Roberto Barroso no Supremo Tribunal Federal (STF). A decisão, confirmada por fontes do Palácio do Planalto, representa a terceira nomeação do petista à Corte em seu atual mandato, após Cristiano Zanin e Flávio Dino.
A escolha foi rápida e sigilosa: ocorreu menos de uma semana após o anúncio da aposentadoria antecipada de Barroso, formalizada na segunda-feira (13), e sem longas rodadas de negociação com o Congresso ou setores do Judiciário. Lula priorizou a relação de confiança pessoal com Messias, considerado um dos quadros mais leais do governo.
“Busco uma pessoa gabaritada para cumprir a Constituição, independentemente de gênero, raça ou amizade pessoal”, declarou Lula recentemente, ao ser questionado sobre pressões por uma indicação feminina.
Disputa interna e resistências
A indicação de Messias ocorre em meio a disputas internas entre alas políticas e jurídicas. No Senado, nomes como o de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e do ministro do TCU Bruno Dantas eram defendidos por líderes partidários e ministros do Supremo, como Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes.
Apesar das pressões, Lula manteve sua decisão pessoal. O nome de Messias seguirá agora para sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e, em seguida, votação no plenário do Senado. A base governista acredita que a aprovação ocorrerá ainda antes do recesso parlamentar, sem grandes obstáculos — embora setores bolsonaristas já indiquem resistência, classificando o jurista como “homem de confiança direta do PT”.
Quem é Jorge Messias
Recifense, nascido em 25 de fevereiro de 1980, Jorge Rodrigo Araújo Messias formou-se em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e é doutor pela Universidade de Brasília (UnB), com tese sobre governança pública e riscos institucionais.
Servidor de carreira desde 2007, atua como procurador da Fazenda Nacional e já passou por cargos estratégicos em ministérios e órgãos como o Banco Central, BNDES e Casa Civil, onde foi subchefe de assuntos jurídicos no governo Dilma Rousseff.
Ganhou notoriedade nacional em 2016, quando foi citado em áudios da Operação Lava Jato que visavam barrar a nomeação de Lula como ministro da Casa Civil. À época, foi apelidado de “Bessias”, termo usado de forma pejorativa pelos adversários do PT. O episódio, porém, acabou consolidando sua imagem como funcionário público leal e discreto, traço valorizado por Lula desde então.
Entre fé e poder
A coincidência entre o encontro com o bispo Samuel Ferreira e o anúncio da indicação de Messias ilustra dois movimentos complementares do governo: a busca por diálogo com o campo religioso e a consolidação da influência de Lula sobre o Supremo.
Em um mesmo dia, o presidente reforçou pontes com a maior comunidade evangélica do país e ampliou sua presença institucional na Corte Suprema, equilibrando símbolos de fé e poder em um momento de desafios políticos e de recomposição de alianças.



