
Uma placa de proibido jogar lixo e entulho recepciona quem chega a uma extensão de aproximadamente 10 alqueires de mata ciliar próximo a Rua Salomão, no bairro Vila Santana em Sousas. O alerta, porém, parece não intimidar: Em meio à vegetação é possível encontrar diversos móveis, colchões, plásticos e televisores abandonados. Vasos sanitários, ossadas de animais, frascos de remédios para cavalo e até uma bobina de alumínio de quase 60 kg também ocupam o espaço que, em tese, deveria ser só de natureza.
O descarte irregular no terreno se tornou comum, apesar da prática gerar multas e estar amparada pela lei 11455/ 02. Em julho de 2014 , uma limpeza da área já havia sido feita, com dezenas de quilos retirados, uma iniciativa do encarregado de açougue e morador de Sousas, Vlademir Salgado. Agora, a situação se repete e há aproximadamente seis meses Salgado retomou o trabalho de limpeza das matas, atividade que executa praticamente todos os dias. Com o auxílio de um bote de plástico descartado, que ele usa como esteira, vai recolhendo os materiais, reservando cerca de 3 horas para a coleta. “Enquanto tiver lixo eu vou limpando. Eu amo minha cidade e amo a natureza. Ninguém tem o direito de vir e sujar esse lugar ”, lamenta.
Todo o material encontrado é deixado empilhado em um canto da mata. Com o objetivo de conscientizar quem passa pelo espaço – possivelmente quem chega até lá com o intuito de descartar lixo- Salgado colocou uma cadeira bem em frente ao lixo acumulado. “ Isso é para verem o que o homem faz com a natureza. É tão bonito ver os pés de jaboticaba e limão florescendo, ver a mata expandindo. Não sei como alguns tem coragem de sujar aqui sem pensar nas conseqüências para as futuras gerações”, explicou.
Além da cadeira, Salgado também colocou bandeirinhas do Brasil acima do lixo empilhado. “Aqui é a minha pátria. Esse é o verde verdadeiro. Essa é a cor do Brasil”, comentou. O açougueiro agora espera que consiga voluntários para retirar o lixo da mata antes do final do ano. “É necessário algum caminhão ou trator para auxiliar no processo”, reforça. Quem quiser colaborar com a limpeza pode contatar Salgado por meio do telefone:
Plano Manejo
A expectativa é que a definição do plano manejo da Área de Proteção Ambiental (APA) de Sousas e Joaquim Egídio, documento que estabelece o zoneamento e as normas que devem presidir o uso da área de conservação e o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação das estruturas físicas necessárias à gestão da área , ajude na proteção de matas como as que são limpas por Salgado.
No dia 18 de junho foi encerrada a entrega de propostas para a licitação que irá escolher a empresa que administrará os serviços técnicos especializados para a elaboração do plano de manejo a partir da revisão, atualização e complementação do Plano Local de Gestão (PLG). Segundo a assessoria da prefeitura, todas as empresas que se candidataram estão aptas a concorrer a vaga e agora o processo entra na fase de análise dos orçamentos. A previsão é que até o final deste ano a empresa seja escolhida e o plano possa finalmente entrar em prática.
Criada em 2001, a APA deveria ter seu plano de manejo pronto em cinco anos como manda a lei. Até agora as regras de uso da área e dos recursos naturais não existem, valendo apenas o zoneamento e as diretrizes da lei que criou a APA, mas apenas essas regras têm sido insuficientes para proteger a região.
Com nove anos de atraso, os recursos para financiar a contratação do plano, estimado em R$ 900 mil, foram aprovados pelo Fundo de Recuperação, Manutenção e Preservação do Meio Ambiente (Proamb) para que a região, que representa 30% do município e é alvo constante da pressão imobiliária, tenha regras de uso da área e dos recursos naturais.
A definição do plano é bem significativa, pois se trata de uma região em que se concentram cerca de 60% da vegetação nativa do município de Campinas, composta principalmente por fragmentos da Mata Atlântica, além de ser cortada por rios importantes como o Atibaia, responsável pelo abastecimento da população de Campinas, e o Jaguari, alternativa para o aumento de captação de água no estado de São Paulo.