Governador de São Paulo vê sua imagem de gestor técnico ruir entre crises políticas, rejeição popular e alinhamento a interesses empresariais, enquanto tenta conter o desgaste com a base bolsonarista
Por Sandra Venancio
São Paulo — Eleito sob o discurso de eficiência e moderação, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) atravessa o momento mais turbulento de sua gestão. De símbolo da “técnica sobre a ideologia”, o ex-ministro de Jair Bolsonaro passou a ser visto como um bolsonarista convicto e aliado das elites econômicas, perdendo apoio popular e político em meio a uma sequência de crises.
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A instalação de pedágios do modelo free flow — sistema de cobrança automática por câmeras e sensores — transformou-se em símbolo de desgaste. A proposta de Tarcísio previa 16 novos pórticos até o fim do ano, mas provocou revolta em diversas cidades, onde moradores e prefeitos, inclusive aliados, reagiram contra o aumento de custos em deslocamentos curtos. Em Sorocaba, o prefeito Rodrigo Manga (Republicanos) liderou atos contra as tarifas. Em Mogi das Cruzes, uma liminar judicial suspendeu a cobrança.
Segundo levantamento da AP Exata, entre 6,9 mil publicações nas redes sobre o tema, 63,3% foram contrárias aos pedágios — rejeição que se estende até mesmo entre eleitores bolsonaristas. “Tarcísio perdeu o discurso da eficiência e virou o governador dos pedágios”, resume um analista político ouvido pela Fórum.
A crise se agravou com a Operação Carbono Oculto, da Polícia Federal, que revelou um suposto esquema de lavagem de dinheiro entre o PCC e fundos de investimento ligados à Faria Lima, movimentando R$ 52 bilhões. O episódio levantou questionamentos sobre a omissão das forças de segurança estaduais, subordinadas ao governo Tarcísio, enquanto o governador mantinha uma agenda próxima de grandes empresários.
Em meio ao escândalo, outro episódio afetou duramente sua imagem: a crise do metanol, quando bebidas adulteradas intoxicaram dezenas de pessoas no estado. Tentando minimizar o problema, Tarcísio reagiu com ironia — “só vou me preocupar quando adulterarem a Coca-Cola” —, numa fala que lembrou o tom insensível do ex-presidente Bolsonaro durante a pandemia. A reação negativa foi imediata e obrigou o governador a pedir desculpas públicas.
Nos bastidores de Brasília, Tarcísio também atuou para barrar a Medida Provisória dos Impostos, proposta pelo governo Lula para taxar grandes fortunas, apostas e lucros de investidores. A medida, que destinaria até R$ 35 bilhões a programas sociais e de infraestrutura, foi derrotada com apoio articulado pelo governador paulista — consolidando sua imagem de defensor dos ricos e adversário das políticas sociais.
A sucessão de erros e a rejeição crescente nas redes sociais colocam Tarcísio em uma encruzilhada política: distanciar-se do bolsonarismo que o elegeu ou afundar junto com ele. Até aqui, as respostas têm sido tímidas — e a promessa de um governo técnico e conciliador parece cada vez mais um slogan abandonado na beira das estradas que o próprio governador decidiu cobrar.