Pressionado pelo preço dos alimentos e da energia, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decide nesta quarta-feira (19) em quanto elevará a taxa básica de juros, a Selic. A reunião é a segunda sob o novo comando do presidente do BC, Gabriel Galípolo.
Esta poderá ser a quinta elevação consecutiva da Selic. Segundo a edição mais recente do boletim Focus, pesquisa semanal com analistas de mercado, a taxa básica deve subir 1 ponto percentual nesta reunião, de 13,25% para 14,25% ao ano.
No comunicado da última reunião, em janeiro, o Copom confirmou que elevará os juros básicos em 1 ponto percentual na reunião de março. Segundo o comitê, o agravamento das incertezas externas e os ruídos provocados pelo pacote fiscal do governo no fim do ano passado justificam o aumento dos juros básicos no início de 2025.
Inflação
Na ata da reunião mais recente, o Copom alertou para o prolongamento do ciclo de alta da Taxa Selic. Segundo o BC, o cenário de inflação de curto prazo segue adverso, principalmente em razão do aumento nos preços dos alimentos. Mantido esse cenário, o comitê aponta que a inflação deve ficar acima da meta pelos próximos 6 meses.
Taxa Selic
A taxa básica de juros é usada nas negociações de títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de referência para as demais taxas da economia. Ela é o principal instrumento do Banco Central para manter a inflação sob controle. O BC atua diariamente por meio de operações de mercado aberto – comprando e vendendo títulos públicos federais – para manter a taxa de juros próxima do valor definido na reunião.
Meta contínua
Pelo novo sistema de meta contínua em vigor a partir deste mês, a meta de inflação que deve ser perseguida pelo BC, definida pelo Conselho Monetário Nacional, é de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é 1,5% e o superior é 4,5%.
Manifestações em frente ao prédio do BC
“Juros: a camisa de força do Brasil!”; Movimentos sociais realizam atos em dia que o Copom volta a se reunir para definir a taxa básica de juros, responsável por manter o Brasil entre os mais caros pra se viver
Os protestos contra a política monetária do Banco Central foram realizados em várias capitais e organizados pelas centrais sindicais. Em São Paulo, onde os atos ocorreram na Av. Paulista, movimentos sociais estudantis aderiram às manifestações, com cartazes chamando a atenção de quem passava sobre a importância do debate. Uma das mensagens era: “Juros: a camisa de força do Brasil”.
Apesar de não ser um país desenvolvido e enfrentar desafios para superar a desigualdade social, o Brasil é considerado um país caro para se viver e, isso, devido aos juros altos, que estão entre os mais caros do mundo.
Atualmente, a taxa básica de juros do Brasil está em 13,25% ao ano. Assim, descontando a inflação, o juro real do país está em torno de 9,18%, perdendo apenas para a Argentina, onde o índice está em cerca de 9,36%.
“O que o Banco Central vem praticando [em termos de política monetária] é contrário à política do governo, que quer a redução de juros. E isso porque influencia em tudo, na compra de imóveis, no crédito, no financiamento estudantil, pra faculdade, enfim, em tudo na vida do trabalhador”, destaca o secretário de Cultura da Contraf-CUT, Carlos Damarindo, que também esteve nas ruas. “Apesar de o nível de emprego estar aumentando no Brasil, os juros também estão. Ou seja, se por um lado o aumento do emprego é importante para que o trabalhador sane suas dívidas, pague seus compromissos, por outro lado, tem esses juros altíssimos que impossibilita a nossa vida”, completa.
“É importante que as pessoas entendam que se hoje você compra um carro financiado e acaba pagando por dois, três carros, ainda que leve pra casa apenas um, é por causa dos juros abusivos praticados pelo sistema bancário. Mas, esses altos juros são induzidos pela taxa Selic, estabelecida pelo Banco Central, por meio do Copom“, explica a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira.
“Por isso, financiar no Brasil é tão caro! E essa situação faz com que tudo fique mais caro para o nosso bolso, afinal, todo mundo que produz e compra depende do sistema financeiro e é impactado com o custo alto do crédito e que acaba sendo repassado para os produtos, como os alimentos”, completa Assumpção.
BC refém do mercado
“O Banco Central deveria ter responsabilidade para com a população, com a qualidade de vida, com o crescimento do país. Mas, não é isso que vem acontecendo. Quando os membros do Copom divulgam, em ata, que aumentam os juros por orientação do mercado, revelam que não existe autonomia, mas sim que são reféns de um pequeno grupo, do mercado, e que diz que é preciso controlar a inflação, porém essa inflação não é causada pela demanda, ou seja, pelo consumo exagerado da população, mas por fatores externos que deveriam ser resolvidos de outras formas e não sacrificando nosso poder de compra”, explicou Juvandia Moreira.