Obra é um documento primoroso sobre a construção de um mito
Há quase 200 anos, a escritora britânica Mary Shelley criou um dos maiores romances de terror de todos os tempos – Frankenstein ou O moderno Prometeu .
Considerado o primeiro mito dos tempos modernos, o monstro criado por Mary Shelley surgiu num momento decisivo da história ocidental, numa época em que os avanços no conhecimento científico prometiam o domínio humano sobre o que, por séculos, fora só de Deus.
Neste mais recente lançamento da editora Larousse do Brasil, Frankenstein – as muitas faces de um monstro, a autora Susan Tyler Hitchcock analisa a história do monstro e a evolução do seu significado, desde o sonho de Mary Shelley até os dias atuais.
Frankenstein nasceu de um desafio feito em 1816, numa época em que poesia e ciência, horror gótico e reanimação dominavam o ar de Genebra. Lord Byron, escritor e amigo de Shelley, desafiou-a e a seu futuro marido Percy Shelley, além do também John Pollidori a criar, cada um, uma história de fantasmas. Byron escreveu um conto que usaria mais tarde na conclusão de seu poema Mazzepa. Pollidori escreveu o romance O Vampiro, que seria a primeira história ocidental contendo o vampiro como conhecemos hoje, e que décadas depois inspiraria Bram Stoker no seu Drácula. Mary Shelley imaginou uma história sobre a presunção humana e suas conseqüências bastardas; ela teve uma visão sobre um estudante dando vida a uma criatura. Já Percy Shelley parece não ter composto sequer um fragmento em resposta ao desafio.
Em Frankenstein – as muitas faces de um monstro, Susan Tyler Hitchcock narra a evolução desse ícone cultural. Ela recorre ao cinema, à literatura, história, ciência e até mesmo a música punk para entender o significado desse personagem, que nos fala sobre nossas aspirações humanas e os nossos mais profundos temores.
O livro está dividido em três partes: Nascimento – Concepção, Nascimento e Genealogia, Recepção e Revisão e O monstro sobrevive. Atingindo a maioridade – Fabricando mais monstros, Um monstro para os tempos modernos e O admirável mundo novo dos monstros. O nosso monstro – O terror e o humor, Monstros na sala de estar, Levando o monstro a sério e O Monstro e o seu mito hoje. Em Monstros na sala de estar, por exemplo, Susan destaca a produção O jovem Frankenstein (1974), considerado por muitos o melhor filme de Mel Brooks. Na obra o personagem Freddy Frankenstein é um anatomista moderno, que dá aulas a estudantes de medicina sobre a estrutura do cérebro; ele viaja para a Transilvânia – uma referência a Drácula – e lá cria seu próprio monstro.
(…) Brooks criou um personagem maleável, fácil de ser querido. Seu rosto foi feito de modo a parecer neutro – uma estrutura óssea profundamente esculpida, pele lisa, pontos, grampos e um zíper no pescoço – mas seu corpo era, como o médico ordenou, monstruosamente desmesurado. Quando seu corpo inanimado jaz sobre um carrinho no laboratório, Freddy Frankenstein e Inga reagem de maneira diferente (…).
Ainda em Monstros na sala de estar, Susan Tyler Hitchcock cita Alice Cooper, que em 1986 voltou a cena musical com o álbum Teenage Frankenstein.
Frankenstein de Mary Shelley já foi publicado em várias edições, incluindo adaptações infantis, histórias em quadrinhos etc. Mais de 500 versões do romance são publicadas anualmente e ele já foi traduzido em pelo menos 30 idiomas. Atualmente, graças a Hollywood, milhões de pessoas conhecem o monstro sem ter sequer lido o romance. A indústria do cinema é a grande responsável pela aparência de Frankenstein ter mergulhado profundamente na imaginação do público. E mais uma vez este ícone voltará às telas do cinema. Recentemente foram divulgadas as primeiras imagens conceituais de I, Frankenstein, adaptação dos quadrinhos de Grevioux, que moderniza o personagem criado por Mary Shelley. O filme contará com a direção de Patrick Tatopoulos (Anjos da Noite: A Rebelião), e a produção de Ryan Turek (do site Shock Til You Drop), Robert Sanchez e Chris Patton.