Governador paulista tenta equilibrar discurso entre bolsonaristas e elite econômica, mas recuos sucessivos e atrito com Eduardo Bolsonaro aumentam pressão em ano pré-eleitoral
A ofensiva comercial do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o Brasil já produz efeitos diretos no cenário político interno, e um dos primeiros a sentir o impacto é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Potencial candidato à Presidência em 2026, Tarcísio enfrenta desgaste com a base bolsonarista e o empresariado após uma reação confusa à ameaça de sobretaxa imposta pelo republicano.
Desde a publicação da carta de Trump, em que o norte-americano ameaça o Brasil com tarifas pesadas sobre produtos de exportação, Tarcísio tentou defender Jair Bolsonaro e ao mesmo tempo culpar o presidente Lula pela crise. Em um primeiro momento, o governador classificou o episódio como resultado de “erros diplomáticos” do governo federal e disse que a “anistia” de supostos crimes de Bolsonaro não poderia ser colocada acima dos interesses comerciais do país.
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A resposta irritou setores do agronegócio, da indústria paulista e também parte do núcleo duro do bolsonarismo, que interpretou a fala como uma indireta à defesa de Bolsonaro em investigações que miram o ex-presidente. Diante da pressão, Tarcísio recuou. No dia 11 de julho, reuniu-se com o chefe da Embaixada dos Estados Unidos para tentar mediar a crise e, no dia seguinte, mudou o tom. Em nova declaração, elogiou a diplomacia brasileira e disse que “questões políticas precisam ser deixadas de lado”, apelando por união entre governo federal, estados e setor privado.
“A gente precisa estar de mãos dadas agora para resolver”, declarou o governador, tentando retomar pontes com Lula e empresários enquanto acenava para moderação.
O episódio, porém, expôs a fragilidade da estratégia de Tarcísio em se apresentar como sucessor natural de Bolsonaro. Enquanto parte da direita radical o pressiona por maior fidelidade ao ex-presidente, setores da elite econômica — seu principal trunfo até agora — começam a demonstrar insegurança diante da postura vacilante e da dificuldade em manter uma narrativa clara em momentos de crise.
Analistas veem na confusão uma prévia do desafio que Tarcísio enfrentará em 2026: sustentar apoio de bolsonaristas sem se afastar de eleitores moderados e do empresariado, que temem um embate ideológico com Washington em meio à dependência de mercados como o dos Estados Unidos.
Além disso, aliados no Congresso já avaliam que o episódio abre espaço para outras candidaturas de direita disputarem o legado bolsonarista — inclusive figuras mais alinhadas diretamente a Jair Bolsonaro ou à ala que defende o endurecimento contra Lula sem concessões.
Para o Palácio dos Bandeirantes, a prioridade agora é conter o desgaste econômico e mostrar resultados concretos na atração de investimentos, especialmente em um momento de volatilidade internacional. Resta saber se a reaproximação diplomática será suficiente para estancar o desgaste político — ou se a crise da tarifa será lembrada como o primeiro grande teste mal resolvido na longa corrida eleitoral de 2026.