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segunda-feira, novembro 11, 2024

Brasil tem epidemia de cesarianas

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O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, disse que o Brasil vive uma epidemia de cesarianas. A afirmação foi feita hoje (06), durante o lançamento da Campanha de Incentivo ao Parto Normal, em Brasília (DF). Temporão revelou que cada vez mais os casais têm a ilusão de que com o parto cesárea estarão simplificando o processo e de que ele é indolor e mais seguro. “Nós sabemos que o parto cesárea não indicado adequadamente pode gerar sérios problemas de saúde ao bebê e à mãe além de atrasar e interferir no processo de aleitamento materno, que é fundamental para a saúde do bebê”, afirmou.

Levantamento encomendado pelo Ministério da Saúde demonstra que a cesariana já representa 43% dos partos realizados no Brasil no setor público e no privado. Analisando apenas as mulheres que utilizam planos de saúde, esse percentual é ainda maior, chega a 80%. No Sistema Único de Saúde, as cesáreas somam 26% do total de partos. Os dados são de 2006. O parto normal é o mais seguro tanto para a mãe quanto para o bebê. De acordo com a recomendação da Organização Mundial da Saúde, as cirurgias deveriam corresponder a, no máximo, 15% dos partos. O ministro disse que a meta do país é se aproximar ainda mais da meta da OMS.

A campanha começa a ser veiculada no dia das mães, no próximo domingo (11) e contará com a distribuição de folderes, cartazes, filmes para TV e gravações para as rádios com mensagens sobre o processo do parto normal e a sua importância. Os materiais contribuem, ainda, para esclarecer às futuras mamães que tudo tem o tempo certo e que o bebê também tem seu tempo para nascer.

“A cesariana tem indicações técnico científicas, se constitui em avanço da ciência para as situações de risco para a mãe e/ou bebê, mas tem sido comum a cirurgia ser marcada desnecessariamente, sem uma indicação precisa, o que aumenta as chances de complicações e morte para ambos”, alerta o médico Adson França, diretor do Departamento de Ações Estratégicas do Ministério da Saúde.

Os estados da região Sudeste registram os índices mais elevados de cesariana, totalizando 52% do número total de partos. A região Norte, por outro lado, registra os menores percentuais: 35%.

“No Sudeste, o modelo de atenção obstétrica vigente, com maior valorização do parto operatório está mais consolidado. Essa também é a região onde as escolas médicas tiveram papel preponderante de disseminação desse modelo. Na região Norte há um maior número de partos normais”, comenta a coordenadora da área técnica de saúde da mulher, Regina Viola. No Amapá a prevalência de partos normais é de 75%.

A alta prevalência das cesáreas leva a uma série de prejuízos: para o bebê, para a mãe e para a gestão dos serviços de saúde. Estudos demonstram que fetos nascidos entre 36 e 38 semanas, antes do período normal de gestação (40 semanas) têm 120 vezes mais chances de desenvolver problemas respiratórios agudos e, em conseqüência, acabam precisando de internação em unidades de cuidados intermediários ou mesmo UTI Neonatal. Além disso, no parto cirúrgico há uma separação abrupta e precoce entre mãe e filho, num momento primordial para o estabelecimento de vínculo.

Para as mães, o parto cirúrgico apresenta mais chances de hemorragia, infecção no pós-parto e uma recuperação mais difícil, além de determinar custos mais elevados e desnecessários para a saúde pública e privada. “Por essas e outras razões, queremos incentivar as mulheres a reivindicar o direito de dar à luz por meio do parto normal, com autonomia, humanização no seu acompanhamento e segurança”, afirma Adson França.

Um dos aspectos já identificados pelo ministério como causa para o aumento das cesáreas é o menor tempo de assistência médica necessária, em relação ao parto normal. Por isso, a campanha também sensibilizará os profissionais de saúde, as universidades e conta com o apoio das entidades médicas e científicas.

A falta de informação entre as mulheres também seria outro agravante, pois faz com que elas não participem dessa escolha e, mesmo que num primeiro momento expressem a vontade do parto normal (70%, segundo pesquisas recentes/MS), no decorrer do trabalho de parto, são convencidas por um ou outro motivo a aceitar o parto cirúrgico. Em várias situações ocorre o desrespeito ao protagonismo feminino, prevalecendo convicções pessoais do profissional assistente, nem sempre baseadas nas melhores evidências científicas.

O Ministério da Saúde também esclarece que cesáreas anteriores, gestação de gêmeos e fetos grandes não determinam, por si só, a indicação do parto cirúrgico.

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