O 12o Cultura Inglesa Festival apresenta nesta quarta-feira (21) as duas últimas sessões dos curtas-metragens “Prós e Contras” (Pedro Struchi), “Superpoderes” (Katia Kreutz) e “Eu e Crocodilos” (Marcela Arantes), que revelam os anseios, temores e questionamentos frente a situações vividas na adolescência. As sessões serão às 12h15 e 19h30 e a entrada é franca. Em Campinas, a Cultura Inglesa fica Rua Dr. Antônio da Costa Carvalho, 480. Informações: (19) 3255-8656.
Baseada no poema “On Being Eaten By a Snake” da premiada poeta e novelista contemporânea Susan Wicks, Marcela Arantes idealizou “Eu e Crocodilos”, obra que mistura suspense e lirismo para falar sobre o medo de uma garota ao sentir-se pela primeira vez atraída por um outro rapaz.
Arthur Morrison e H.G.Wells, expoentes da literatura do final do século 19, inspiraram os outros dois roteiristas e diretores. Livremente adaptado do conto “That Brute Simmons” (Arthur Morrison), “Prós e Contras”, de Pedro Struchi, narra de forma bem humorada uma aposta entre dois amigos, um romântico e outro cético, sobre quem argumenta melhor sobre as vantagens e desvantagens de um relacionamento amoroso.
O conto “The Man Who Could Work Miracles”, de HG Wells, ganha pinceladas de história em quadrinhos na comédia “Superpoderes”, de Katia Kreutz, na qual um adolescente descobre ser capaz de usar a mente para realizar feitos extraordinários. Mas quando as coisas saem erradas, ele começa a pensar se o dom é mesmo útil.
“EU E CROCODILOS”
Os sentidos, os sonhos, os medos e os desejos do primeiro contato com o outro estão no curta-metragem “Eu e Crocodilos”, de Marcela Arantes, inspirado na poesia contemporânea de Susan Wicks. O roteiro se desenvolve em linhas paralelas: os sonhos, o cotidiano familiar e o flerte no metrô. Os planos têm como figura central Raquel, uma garota que reluta em se aproximar de um rapaz, que conhece no metrô. O temor surge da desilusão que nutre em relação ao próprio corpo e aos membros masculinos da família – o pai indiferente, o irmão rude e seus amigos brutais. Ela ainda resiste à pressão das amigas para ser menos tímida e mais namoradeira.
Em meio a esses conflitos, Raquel tem sonhos estranhos, ambientados num grande lago infestado por crocodilos. Apesar da ameaça, a mãe, a irmã e as amigas nadam sem problemas. À medida que entende seus medos, a garota modifica suas atitudes não só na vida real, mas também na sua movimentação no sonho.
Em “On Being Eaten By a Snake” – publicado no livro Open Diagnosis, de 1994 –, Susan Wicks descreve liricamente o episódio de uma cobra devorando sua presa em meio a um campo de papoulas. O olhar da autora transforma a cena brutal num jogo em que o predador age com ternura e a vítima se apraz ao ser devorada.
Ao ler o poema, Marcela encontrou o viés que desejava para falar sobre os temores advindos da descoberta do outro. Para escapar de obviedades, a roteirista substituiu a figura da cobra pela do crocodilo que, no filme, tem a presença apenas sugerida, aumentando o clima de suspense. “Os crocodilos representam não apenas o receio em torno do primeiro contato com o sexo oposto, mas outros medos dos adolescentes: o de ser rejeitado pelo parceiro, de não ter a forma física ideal e de enfrentar às pressões dos amigos”, diz a diretora.
Com uma linguagem clara e aguda, a poeta e novelista Susan Wicks constrói versos carregados de imagens inusitadas e muitas vezes com referência aos animais, cujas formas e comportamentos lhe sugerem inspirações e analogias insólitas.
Nascida em Kent, na Inglaterra, ela estudou francês nas Universidades de Hull and Sussex, especializando-se na obra do escritor parisiense André Gide. Professora das Universidades de Dublin (Irlanda) e Kent (Inglaterra), morou e trabalhou na França e nos Estados Unidos. Sua obra poética é formada por cinco coletâneas, com destaque para “Singing Underwater”, premiada no Festival Aldeburgh. É autora ainda das novelas “The Key” e “Little Thing”, sobre as preocupações inerentes ao universo feminino.
Marcela Arantes é diretora e roteirista do curta “Noite de Sol”, ganhador de nove prêmios nacionais, entre eles quatro Kikitos (melhor direção, roteiro, atriz e filme) do Festival de Cinema de Gramado. Dirigiu e roteirizou reportagens para o programa “Comando da Madrugada”, do jornalista Goulart de Andrade. Trabalhou como assistente de direção dos curtas “Saliva” (Esmir Filho), “Perto de Qualquer Lugar” (Mariana Bastos) e “Do Mundo não se leva nada” (Charly Braun), produzidos para edições anteriores do Cultura Inglesa Festival. Também escreveu e dirigiu o curta-metragem “O Imaginante Quarto da Vovó”, produzido pela Ioiô Filmes e realizado com recursos obtidos no edital infanto-juvenil do Ministério da Cultura.
Ficha técnica – Direção e Roteiro: Marcela Arantes; Elenco: Giulia Amorim, Bia Barbosa, Patrícia Soares, Victor Mendes, Ronny Kriwat e Theo Nogueira; Produção: Kns Produções; Produção Executiva: Jether Bineli; Direção de Produção: Lucas Lui; Direção de Fotografia: Caroline Leone; Direção de Arte: Rafael Beck; Montagem: Jether Bineli; Som Direto: Guilherme Shinji.
PRÓS E CONTRAS
Para exorcizar os fantasmas existencialistas de “Implacável”, seu último curta-metragem, Pedro Struchi decidiu fazer a comédia “Prós e Contras”. Escrita numa linguagem direta e escrachada, o filme fala de dois jovens “bobos e desprovidos de qualquer crédito” (nas palavras do próprio roteirista), que decidem fazer uma aposta sobre quem argumenta melhor sobre as vantagens e desvantagens de um relacionamento afetivo. O prêmio da aposta é uma pizza.
O curta é uma livre adaptação do conto “That Brute Simmons”, publicado em 1891 no livro “Tales of Mean Streets” pelo escritor e jornalista Arthur Morrison. Na obra, um homem que todos julgavam morto num naufrágio reaparece para chantagear Simmons, o atual marido da suposta viúva. Acontece então o insólito: em lugar de pagar a chantagem, Simmons vislumbra com alívio a possibilidade de entregar a mulher ao primeiro marido e voltar à alegre vida de solteiro. “Os argumentos usados são outros, mas a discussão é a mesma”, diz Pedro.
Conhecido no século 19 por suas histórias de detetives, Arthur Morrison (1863-1945) passou para história como autor de “A Child of the Jago” (1896), no qual fala de maneira crua e direta do East End londrino, marcado pela violência e pela pobreza. Em “That Brute Simmons”, o autor não deixa de mostrar seu conhecimento sobre o lado divertido da vida nos subúrbios. Inclusive, “Tales of Mean Streets” – livro que inclui o conto – obteve na época grande sucesso junto à crítica, o que levou o autor a incursionar na vida literária.
Biólogo por formação, Pedro Struchi pertence a uma nova safra de roteiristas emergentes no interior paulista. Dois anos após concluir o curso de Ciência Biológicas na Unicamp, escreveu e dirigiu o curta “Banquete sem Convite”, premiado Melhor Roteiro no Festival de Cinema Super 8 de Campinas. Produziu outros oito curtas, entre eles “Assim Falavam Dois Perdidos”, de Alvaro Marinho, Janaína Vallim e Rodrigo Braga (prêmio de melhor ator para Marcos de Andrade da I Mostra Competitiva de Vídeo no Interior de São Paulo). Produziu a série TV Povos do Mar para a temporada 2005 (na então STV – Rede Sesc Senac), roteirizando alguns de seus episódios. Seu último trabalho, “Implacável” foi premiado pelo FICC 2006, edital de fomento da Prefeitura de Campinas.
Ficha Técnica: Roteiro, Direção e Produção: Pedro Struchi; Elenco: Alexandre Caetano, Eduardo Osório e Fabiana Fonseca; Direção de Fotografia: Taís Nardi; Som Direto: Frederico Massine: Direção de Arte: Manuela Ferrari; Coordenação de produção: Nara Hailer; Produção de set: Fábio Orsi Agostini: Montagem: Rodrigo Diaz Diaz; Still: Cristina Beskow e Arte Gráfica: Lucas Cardoso.
SUPERPODERES
Consagrado escritor de ficção científica, H.G. Wells tem seu conto “The Man Who Could Work Miracles” transportado para a linguagem de curta-metragem pelas hábeis mãos de Katia Kreutz. Diretora e roteirista da comédia “Superpoderes”, ela vai imprimir o ritmo de história em quadrinhos às aventuras de Jorge (Vitor Ribeiro), um adolescente que descobre ser capaz de realizar feitos extraordinários com o poder da mente. Tons sépias e cores fortes vão permear os “milagres” operados pelo rapaz, dando ao filme um clima levemente surrealista.
Durante a narrativa, os personagens passarão gradativamente da euforia para o desapontamento, provocando no público uma reflexão sobre as vantagens e desvantagens do poder ilimitado, usando como referência os super-heróis das histórias em quadrinhos. “O aprendizado do personagem foi um dos motivos que me levaram a optar pelo conto”, diz Katia.
De certa forma esta foi a trajetória vivida por Herbert George Wells (1866-1946). Entusiasta das infinitas possibilidades do progresso que a ciência e a tecnologia poderiam proporcionar ao homem escreveu “A Máquina do Tempo” (1895), “O Homem Invisível” (1897) e “Guerra dos Mundos”. Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, desiludiu-se com o rumo tomado pela humanidade e voltou-se a escrever obras de educação popular. Seus últimos livros denotam um certo pessimismo e a crença de que a tecnologia não melhorou a sociedade.
Ex-aluna do curso de Letras na Universidade Federal do Paraná e formada em Cinema pela Academia Internacional de Cinema, Katia Kreutz dirigiu o curta-metragem “Artefato Violento”, exibido no programa “Zoom” da TV Cultura e selecionado para o Festival de Cinema, Vídeo e DCine de Curitiba e para o Young Guns Film Festival (em Singapura). Dirigiu e roteirizou o curta “Linhas”, apresentado no Festival Cortópolis, na Argentina, e assinou o roteiro e a edição do curta “Aléias”, que ganhou o terceiro lugar no Concurso Avon 120 anos, promovido pela Editora Abril.
Ficha Técnica: Diretora e Roteirista: Katia Kreutz; Elenco: Victor Ribeiro, Diego Monteiro, Adam Schwegler, Eduardo Semerjian, Miriam D’Errico, Daniele Ângelo, Roberto Borenstein, Cláudio Gonçalves, Giovanna Galdi, Percy Godoy, Thiago Daher e Sheila Zago; Produtor: Thiago Daher; Assistente de Direção, Storyboard e Continuidade: Karen Kreutz; Assistente de Produção: Percy Godoy; Diretor de Fotografia: Rodrigo Falcon; Assistente de Fotografia: José Luiz Sampaio; Diretora de Arte: Sheila Zago; Som Direto e Mixagem: Mariá Gonçalves; Editora: Tatiane Alencar; Animadora: Janaina Assis.