O desenvolvimento tecnológico de nossa sociedade, a oferta praticamente ilimitada de diversão e possibilidades, o aprimoramento intelectual e cultural dos indivíduos, não estão dando conta da necessidade permanente que o ser humano tem de sentir-se feliz e de encontrar um propósito para sua existência. A busca de um preenchimento emocional que dê sentido à sua vida, tem sido algo procurado pelos indivíduos desde os primórdios de nossa História. As diversas filosofias, ideologias, credos e tradições políticas procuraram de alguma forma responder a essa necessidade, sinalizando com um possível “paraíso na terra” a ser desfrutado por todos, quando seguidas as normas ditadas por tais instituições religiosas e políticas. No entanto, muitos indivíduos procuram encontrar esse “paraíso terrestre”, através de algo que está muito longe de lhes proporcionar verdadeiramente a tão sonhada paz interior: o consumo dos mais diversificados tipos de drogas. O problema do uso das drogas supera os aspectos médicos, estando evidentemente bastante associado a fatores de ordem psicológica, social, familiar, cultural e até mesmo espiritual, o que torna a compreensão desse fenômeno como algo muito mais complexo do que a princípio se poderia supor. Independentemente de idade, condição sócio-cultural ou intelectual, o consumo de drogas vem aumentando ao longo das últimas décadas de forma alarmante, mas é em relação aos adolescentes que essa questão se torna ainda mais preocupante, sendo um problema que vem atingindo graves proporções no Brasil nas últimas décadas. Até o início da década de 80, os estudos epidemiológicos não encontravam taxas de consumo alarmantes entre os estudantes, todavia, levantamentos realizados a partir de 1987 pelo Centro Brasileiro de Informações sobre as drogas psicotrópicas da Universidade Federal de São Paulo, têm documentado uma tendência de crescimento do consumo, principalmente pelos jovens adolescentes. O problema das drogas vai para além de questões médicas por estarem envolvidos aspectos relativos à violência, ao crime organizado, à instabilidade política, às condições sociais, sendo uma das três atividades mais lucrativas do mundo, superando até mesmo o petróleo e o mercado de armas. Mas é principalmente a sua relação com aspectos emocionais que torna toda essa questão tão difícil de ser compreendida e resolvida, pois enquanto ‘atividade econômica’, ela só encontra respaldo de consumo, exatamente pela existência de condições emocionais que impulsionam a sua utilização. Cada pessoa possui uma individualidade muito própria e uma forma bastante única de lidar com os ‘altos e baixos’ da vida e com o sofrimento emocional que acompanha a jornada humana na Terra. Não é fácil encarar nossas limitações e as dores e sofrimentos inerentes à condição humana, e é exatamente aí que entram as drogas, como uma forma encontrada pelo indivíduo de distanciamento daquilo que o aflige, mas que ao mesmo tempo tragicamente acaba por distanciá-lo de si mesmo. O paradoxo da droga é que ela trás ao mesmo tempo o amortecimento das preocupações e o alivio momentâneo da dor, mas infelizmente em contra-partida, aprisiona e escraviza a vontade de quem a utiliza. A contradição inerente à utilização das drogas, é que elas “prometem” um senso de libertação de todas as coisas, algo que na realidade somente pode ser obtido por um olhar bastante sincero, corajoso e profundo de si mesmo e daquilo que nos faz tão humanos.
Monica Guberman Raza
Psicóloga Clínica
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