Diante de Lula, novo ministro da Secretaria-Geral condena massacre na Penha e defende combate ao poder econômico do tráfico
Por Sandra Venancio
Em seu primeiro discurso como ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Guilherme Boulos criticou duramente a Operação Contenção, que deixou ao menos 119 mortos nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro. Diante do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Boulos afirmou que o foco do combate ao crime deve estar “na estrutura financeira e nas elites que lucram com o tráfico”, e não nas favelas.
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“Tenho orgulho de fazer parte do governo do presidente que sabe que a cabeça do crime organizado desse país não está no barraco de uma favela. Muitas vezes, está na lavagem de dinheiro lá na Faria Lima, como vimos na Operação Carbono Oculto da Polícia Federal”, declarou, em referência à ação deflagrada em agosto, que desmantelou uma rede de tráfico, adulteração de combustíveis e lavagem de dinheiro.

O novo ministro abriu sua fala pedindo um minuto de silêncio “por todas as vítimas da violência no Rio de Janeiro”, incluindo moradores e policiais. O gesto foi seguido por aplausos dos presentes no Palácio do Planalto, mas o presidente Lula não discursou na cerimônia.
A posse contou com a presença do vice-presidente Geraldo Alckmin, dos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), além de centenas de representantes de movimentos sociais.
Boulos afirmou que sua missão no governo é “ajudar nessa reta final do terceiro mandato de Lula a colocar o governo nas ruas”. Segundo ele, o diálogo deve se estender a setores que ainda resistem às políticas públicas do Executivo, como entregadores e motoristas de aplicativo. “As políticas que mudam a vida das pessoas não nascem só nos gabinetes, nascem do povo, dos territórios populares, das ruas”, declarou.
Em outro trecho do discurso, o ministro criticou o que chamou de “hipocrisia dos que dizem ser contra o sistema”. “Se são contra o sistema, por que não apoiam a nossa proposta de taxar bilionários e casas de aposta?”, questionou, sendo aplaudido por militantes presentes.
Ao encerrar sua fala, Boulos fez um agradecimento emocionado aos companheiros de movimentos sociais que o acompanharam durante sua trajetória política. “São companheiros que não tiveram a chance de sentar num banco de universidade, mas me ensinaram lições que nenhum professor me ensinou. Me ensinaram o valor da solidariedade e da luta coletiva”, concluiu.
O pronunciamento de Boulos marca o primeiro posicionamento público dentro do governo federal em repúdio à operação no Rio, classificada por lideranças comunitárias e entidades de direitos humanos como massacre e genocídio.




