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quinta-feira, novembro 21, 2024

Obras da natureza

Data:

Pedro J. Bondaczuk

 

O homem ainda está muito longe da compreensão dos conceitos básicos que cercam a sua existência, como quem é, de onde veio, onde está, qual a finalidade da sua existência e de tudo o que o cerca, e vai por aí afora. Todavia, em sua arrogância, acha que tudo sabe e tudo pode e age de forma destrutiva e imprudente, tentando modificar o que sequer entende como funciona e, em cujo funcionamento, portanto, não deveria interferir.

Refiro-me, claro, às pessoas excepcionais, com níveis de compreensão, conhecimentos e informações acima da média, que constituem, no correr das gerações, irrisória minoria. A grande maioria é constituída por indivíduos com nível mental pouco acima dos chimpanzés, por exemplo. Tenho lá minhas dúvidas se vários deles não são mais tapados do que grande parte dos símios.

O Planeta atravessa fase rara, em que suas condições são totalmente propícias à vida, não somente de animais e vegetais, mas, sobretudo, a humana. Trata-se de um sistema vital, com imenso e delicadíssimo equilíbrio, em que um fator depende do outro e que, portanto, nada pode ser alterado.

Para desequilibrá-lo, nem é preciso fazer muita força. Um desmatamento aqui, uma poluição das águas e do ar ali e pronto. Podem ser desencadeadas catástrofes, de conseqüências imprevisíveis e totalmente fora do controle desse animal tão frágil, mas que se julga tão hábil e invulnerável.

Estudos indicam que a Terra passou por fases de transformações cataclísmicas com duração não de milhares, nem de milhões, mas de bilhões de anos, para chegar ao estágio atual, em que se vê povoada por tamanha variedade de vida.

Esse período de equilíbrio, com temperatura ideal, com a mistura adequada de gases na atmosfera, com a camada protetora dos mortais raios cósmicos ainda quase intacta e com a distribuição adequada de água, nas exatas proporções das necessidades dos seres vivos, é coisa de parcos pares de milênios.

Para desequilibrar tudo isso, basta um piscar de olhos. E o que o homem vem fazendo? Cuidando dos ecossistemas? Preservando os fatores vitais essenciais? Não!!! Vem fazendo exatamente o que não devia. Ou seja, agredindo quem lhe deu origem e garante sua subsistência: a natureza.

Julga-se acima desta e crê ter poderes para modificá-la ao seu bel prazer, impunemente, sem que isso lhe traga consequências daninhas, catastróficas, letais. Mas não tem esse poder. Como não conta com qualquer meio para sequer tentar escapar da extinção, quer a pessoal, quer a da espécie.

Subitamente, de um momento para outro, por exemplo, as forças de temperatura e pressão, relativamente calmas e equilibradas agora no núcleo do Planeta, podem se descontrolar. Milhares de vulcões, tidos como extintos, mas meramente “adormecidos”, podem entrar, subitamente, em erupção, todos ao mesmo tempo, lançando bilhões de toneladas de cinzas e gases tóxicos na atmosfera, cobrindo a totalidade do globo terrestre e impedindo que recebamos a indispensável luz do sol. Nessas circunstâncias, a vida se extinguiria talvez em questão de dias, quando não de horas ou até minutos, sem que pudéssemos ter a menor reação.

De repente, por outro lado, as frágeis placas que constituem a parte sólida da Terra podem se mover, enlouquecidas, e se chocar, violentamente, umas com as outras, provocando pavorosos e devastadores terremotos – como nunca antes vistos, por não propiciarem condições para a existência de testemunhas – acompanhados de aterrorizantes tsunamis, com vagalhões imensos, de quarenta metros ou mais de altura. Qual a escapatória para isso? Não há nenhuma, obviamente.

E ainda assim, o homem se julga invulnerável. Destrói florestas e mais florestas, indiferente ao papel de filtro que a densa vegetação tem, para garantir a pureza e integridade da mistura gasosa conhecida como “ar”.

Lança, diariamente, bilhões de toneladas de poluentes à atmosfera, o que provoca um provavelmente irreversível processo de aumento de temperatura. Geleiras e mais geleiras, com centenas de milhares de anos de existência, começam a se derreter, aceleradamente, aumentando, logicamente, o nível das águas dos oceanos e pondo em risco milhões de quilômetros quadrados de solo costeiro, em que habitam 60% da população do Planeta.        

Fosse um pouquinho mais inteligente, tivesse raciocínio prático e fosse menos arrogante, o homem se daria conta do que o explorador norueguês, Thor Heyerdahl, membro da famosíssima “Expedição Kon-tiki” (em que demonstrou que boa parte das ilhas do Pacífico foi povoada por autóctones sul-americanos) escreveu em um de seus livros: “Somos obra da natureza, seja com ajuda de Deus ou seja acreditando que Deus é a própria natureza”.

Tenho a intuição de que ainda não compreendemos, sequer minimamente, essa megaforça estupenda, que criou e vem criando o universo, cujas dimensões não cabem em nossa compreensão, e que chamamos, genericamente, de Deus. Não evoluímos, ainda, o suficiente para chegarmos a esse entendimento, já não digo total, mas no seu aspecto mais elementar.

Afinal, o maior dos gênios utiliza, no curto tempo de vida que tem, no máximo 5% do potencial do seu cérebro, se tanto. As pessoas comuns devem utilizar por volta de 2 a 3%. E os broncos, possivelmente, não mais do que 1%.

Quando a espécie puder utilizar melhor a capacidade de raciocínio de que é dotada, é possível (mesmo não havendo certeza), que conclua que o Ser, poderoso, infinito e eterno, que denomina de Deus, pode, perfeitamente, ser chamado de “Natureza”, sem que haja a menor impropriedade nessa denominação. Isso, óbvio, caso lhe reste tempo para essa evolução e não promova, de vez, o que já está em pleno andamento: um suicídio generalizado, levando consigo, para a morte, todos os seres vivos deste pequeno, mas tão surpreendentemente especial Planeta.

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