Senador culpa filho do ex-presidente por “narrativa falsa” que teria favorecido Lula; Eduardo reage dizendo que o prejuízo foi “ao plano pessoal” de Ciro e defende lealdade a Bolsonaro
Por Sandra Venancio – Foto Agencia Senado
Brasília — A relação entre duas das principais lideranças da direita brasileira, Ciro Nogueira (PP-PI) e Eduardo Bolsonaro (PL-SP), azedou publicamente após uma entrevista do senador ao programa Canal Livre, da TV Bandeirantes. Na conversa, Ciro responsabilizou o deputado por ter contribuído, de forma indireta, para uma “narrativa falsa” do governo Lula sobre o recente aumento de tarifas imposto pelos Estados Unidos ao Brasil.
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Segundo Nogueira, a decisão do presidente americano Donald Trump, de associar as novas tarifas à postura do ex-presidente Jair Bolsonaro, teria sido explorada politicamente pelo Planalto.
— “Isso nos prejudicou, criou uma narrativa falsa do presidente Lula em defesa da soberania. Ele se aproveitou disso de forma muito ostensiva e nos prejudicou eleitoralmente”, afirmou o senador.
A declaração provocou reação imediata. Em suas redes sociais, Eduardo Bolsonaro rebateu as críticas e insinuou que o incômodo de Nogueira seria motivado por frustração pessoal:
— “Prezado Ciro Nogueira, o prejuízo foi gigantesco para o seu plano pessoal, não se pode confundir o seu interesse com o do Brasil. Compreendo seu sentimento, pois também foi um grande prejuízo para mim, mas a diferença é que estou disposto a sacrificar meus interesses pessoais pelo Brasil”, escreveu o parlamentar.
A troca de acusações expõe divergências internas entre antigos aliados do bolsonarismo e ocorre em meio às articulações para a sucessão presidencial de 2026. Nogueira, que preside o Progressistas (PP) e foi ministro da Casa Civil no governo Bolsonaro, é hoje um dos principais defensores da candidatura do governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos) — nome que vem sendo costurado como a opção do campo conservador para enfrentar Lula.
Durante a entrevista, o senador buscou destacar a independência política de Tarcísio e afastar a imagem de submissão ao clã Bolsonaro:
— “Ele jamais vai trair o presidente Bolsonaro, mas também nunca será subordinado ou pau mandado. Ele será leal, mas autônomo”, disse Ciro, comparando o governador ao ex-tucano João Doria, a quem acusou de “trair” o ex-presidente.
Nogueira também revelou que esteve recentemente com Jair Bolsonaro, que teria confirmado o apoio a Tarcísio, mas sem anunciar oficialmente a decisão. O senador defendeu que o endosso público ocorra ainda em 2025, para fortalecer a pré-campanha do governador.
Em outro trecho da entrevista, o ex-ministro tentou isentar Bolsonaro de responsabilidade pela sanção econômica imposta por Trump, alegando erro de comunicação entre os governos. Segundo ele, a carta do republicano que citava o ex-presidente foi mal interpretada:
— “O próprio presidente Trump errou ao colocar que estava tomando aquelas medidas por causa do Bolsonaro. Não foi por isso. O real responsável por essa situação é Lula, por sua política externa equivocada, pelo alinhamento ao BRICS e por um chanceler que age contra os Estados Unidos e Israel”, afirmou, referindo-se a Celso Amorim.
A disputa de versões evidencia a reconfiguração das forças à direita. Enquanto Eduardo Bolsonaro tenta manter a imagem de guardião do legado do pai, Ciro Nogueira busca reposicionar o PP e consolidar Tarcísio como candidato de centro-direita com maior viabilidade eleitoral.
Nos bastidores, aliados de ambos admitem que o episódio amplia o distanciamento entre o bolsonarismo ideológico, representado por Eduardo, e o pragmatismo político do Centrão, liderado por Ciro. O embate, que começou com tarifas americanas, reflete uma disputa maior: quem herda o capital político da direita nas urnas de 2026.




