23.9 C
Campinas
terça-feira, novembro 11, 2025
spot_img

Organizações denunciam ‘matança de Estado’ em operação policial no Rio e responsabilizam Cláudio Castro por chacina

Data:

Entidades de direitos humanos responsabilizam o governador Cláudio Castro por 64 mortes e afirmam que o Estado “transformou favelas em campos de batalha”

Por Sandra Venancio

Quase 30 organizações de direitos humanos e coletivos da sociedade civil divulgaram, nesta terça-feira (28), uma nota conjunta classificando a Operação Contenção, realizada nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, como uma “matança produzida pelo Estado brasileiro”. A ação, considerada a mais letal da história do estado, deixou 64 mortos, incluindo quatro policiais, segundo informações da colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo.

>> Siga o canal do Jornal Local no WhatsApp

O documento responsabiliza diretamente o governador Cláudio Castro (PL), afirmando que ele “detém o título de responsável por quatro das cinco operações mais letais da história do Rio de Janeiro”. As entidades acusam o governo de “premiar o confronto e a morte”, transformando comunidades em “campos de batalha, onde moradores são tratados como inimigos internos”.

Rio de Janeiro (RJ), 28/10/2025 – Dezenas de corpos são trazidos por moradores para a Praça São Lucas, na Penha, zona norte do Rio de Janeiro. Operação Contensçao. Foto: Tomaz Silva /Agência Brasil

Entre as signatárias estão Anistia Internacional Brasil, Justiça Global, Conectas Direitos Humanos, Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), CEJIL, Instituto Papo Reto, Redes da Maré, ISER, Observatório de Favelas, Instituto Sou da Paz, Rede Justiça Criminal, Casa Fluminense e Frente Estadual pelo Desencarceramento, entre outras.

Críticas à política de segurança e à “guerra às drogas”

O texto denuncia que o governo estadual tem buscado enfraquecer mecanismos de controle e transparência nas ações policiais, como a ADPF das Favelas (635) — decisão do Supremo Tribunal Federal que estabelece limites para operações em comunidades — e a ADPF 976, que reforça a necessidade de planejamento e preservação de vidas durante incursões.

As organizações afirmam que a Operação Contenção “expõe o fracasso e a violência estrutural da política de segurança pública” e “coloca a cidade em estado de terror”. O documento também cita alertas da ONU e da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) sobre o caráter racista e discriminatório da política de “guerra às drogas” adotada pelo Estado do Rio.

https://twitter.com/CelebridadesDas/status/1983278829025255528

Segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), 5.421 jovens de até 29 anos foram mortos em intervenções policiais nos últimos dez anos. A maioria dessas vítimas é composta por homens negros e moradores de favelas.

Cenário de horror após a operação

Na madrugada desta quarta-feira (29), moradores do Complexo da Penha levaram mais de 50 corpos até a Praça São Lucas, na Estrada José Rucas, um dia após os confrontos. As vítimas foram encontradas em uma área de mata entre os complexos da Penha e do Alemão, na Serra da Misericórdia, onde se concentraram os tiroteios entre policiais e integrantes do Comando Vermelho (CV).

Relatos de moradores apontam que ainda há corpos no alto do morro e que o número de mortos pode ser superior ao divulgado pelas autoridades. Vídeos e testemunhos indicam que parte das vítimas teria sido executada após rendição, o que reforça as denúncias de execuções sumárias e desaparecimentos.

Histórico de letalidade

A gestão de Cláudio Castro acumula recordes de mortes em operações policiais. Segundo levantamento do Fórum Grita Baixada e do CESeC, quatro das cinco operações mais letais da história do Rio ocorreram entre 2021 e 2025, todas sob o atual governo.

Entre elas estão:

  • Jacarezinho (2021) — 28 mortos;
  • Complexo do Alemão (2022) — 18 mortos;
  • Complexo da Maré (2023) — 21 mortos;
  • Penha e Alemão (2025) — 64 mortos.

Reação e silêncio oficial

Até o fechamento desta reportagem, o governo do Rio de Janeiro não havia se manifestado oficialmente sobre o documento das entidades. O governador Cláudio Castro tem defendido publicamente a operação, afirmando que “a polícia enfrentou criminosos fortemente armados e salvou vidas”.

A Defensoria Pública do Estado e o Ministério Público Federal estudam medidas judiciais para apurar as circunstâncias da operação e garantir o cumprimento da ADPF das Favelas, que continua em vigor.

Enquanto isso, organizações e familiares das vítimas prometem novos protestos nos próximos dias, exigindo investigação independente e respeito aos direitos humanos nas favelas cariocas.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Compartilhe esse Artigo:

spot_img

Últimas Notícias

Artigos Relacionados
Relacionados

Diretor da PF reage a tentativa de limitação de poderes e diz que não aceitarei diminuição de competência

Andrei Passos Rodrigues afirma que não aceitará interferência na...

Polícia Federal desarticula esquema de exportação ilegal de remédios controlados para os EUA

Operação Tarja Preta prendeu o líder da quadrilha em...

Guerra de facções transforma Rio Claro em novo epicentro da violência no interior paulista

Disputa entre PCC e Comando Vermelho provoca aumento de...

Governo reage a proposta de Derrite e vê ameaça ao papel da Polícia Federal

Mudanças no projeto “Antifacção” geram crise interna e preocupações...
Jornal Local
Política de Privacidade

A Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) já está em vigor no Brasil. Além de definir regras e deveres para quem usa dados pessoais, a LGPD também provê novos direitos para você, titular de dados pessoais.

O Blog Jornalocal tem o compromisso com a transparência, a privacidade e a segurança dos dados de seus clientes durante todo o processo de interação com nosso site.

Os dados cadastrais dos clientes não são divulgados para terceiros, exceto quando necessários para o processo de entrega, para cobrança ou participação em promoções solicitadas pelos clientes. Seus dados pessoais são peça fundamental para que o pedido chegue em segurança na sua casa, de acordo com o prazo de entrega estipulado.

O Blog Jornalocal usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações de cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.

Confira nossa política de privacidade: https://jornalocal.com.br/termos/#privacidade