Exonerações em cargos estratégicos atingem aliados de PP, PSD, União Brasil e MDB; Planalto transforma crise da MP em teste de fidelidade para 2026
Por Sandra Venancio – Foto Marcos Oliveira/Agência Senado
Brasília — A derrota do governo Lula na Câmara dos Deputados, com a derrubada da medida provisória que substituiria o aumento do IOF, desencadeou uma reação imediata no Palácio do Planalto. Em menos de uma semana, uma série de exonerações em cargos de segundo escalão atingiu aliados de partidos do Centrão, redesenhando o mapa político da Esplanada.
>> Siga o canal do Jornal Local no WhatsApp
A decisão partiu após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva receber da ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, um relatório com nomes de indicados que teriam atuado contra o governo na votação. Lula autorizou um “pente-fino” em postos estratégicos, e as demissões começaram a ser publicadas em sequência no Diário Oficial.
Entre os órgãos afetados estão a Caixa Econômica Federal, a Codevasf, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e superintendências regionais do Ministério da Agricultura — áreas consideradas moedas de troca entre o governo e o Congresso.
Fontes do Planalto afirmam que o movimento é tanto uma resposta política quanto um sinal de reorganização interna. A leitura é de que a votação da MP expôs quem permanece alinhado ao Executivo e quem busca se distanciar com foco nas eleições de 2026.
Foram atingidos aliados do presidente do PP, Ciro Nogueira (PI); do PSD, Gilberto Kassab; além de nomes ligados ao União Brasil e ao MDB. Entre os exonerados estão Lena Carolina Brandão, irmã do líder do União Brasil na Câmara, Pedro Lucas Fernandes, e Harley Xavier Nascimento, indicado pelo deputado Arthur Maia (União-BA). Também perderam espaço José Trabulo Junior e Paulo Rodrigo de Lemos Lopes, ligados ao PP e ao PL, que atuavam em cargos na Caixa Econômica.
No Ministério da Agricultura, quatro superintendentes regionais — de Minas Gerais, Maranhão, Paraná e Pará — foram dispensados. Segundo interlocutores do PSD, o partido não foi avisado oficialmente das mudanças, o que gerou desconforto na bancada. Deputados afirmam que o partido tem histórico de apoio ao governo e consideram as demissões uma “retaliação desproporcional”.
Nos bastidores, o Planalto avalia que as exonerações cumprem uma função estratégica: consolidar uma base mais confiável e reduzir a dependência de partidos que, embora ocupem cargos, não garantem votos em plenário. Um assessor presidencial classificou a decisão como “um freio de arrumação necessário para separar aliados de ocasião de aliados reais”.
A reação no Congresso, contudo, foi imediata. Líderes do Centrão classificaram o movimento como “erro político” e alertaram para o risco de paralisar votações importantes. Um deputado do grupo afirmou que “bater em aliados num Congresso dividido é uma aposta arriscada”, e outro resumiu:
— O governo está trocando pontes por paredões. Ninguém governa sozinho.
Apesar do endurecimento, o Planalto mantém o discurso de que “a porta segue aberta” para partidos dispostos a retomar o alinhamento. A mensagem é clara: quem votar com o governo, mantém espaço; quem se opuser, perde cargos e influência.
Com a movimentação, Lula sinaliza que pretende reconstruir sua base em novos termos — menos dependente de acordos informais e mais pautada por resultados concretos nas votações. O recado, segundo um interlocutor próximo do presidente, é simples: “Lealdade tem custo, mas também tem recompensa.”