
Ministra teria confidenciado a aliados intenção de deixar a Corte antes de 2029; tensão diplomática e risco de sanções americanas também pesam na decisão
Por Sandra Venancio
A possibilidade de uma nova aposentadoria precoce no Supremo Tribunal Federal (STF) reacendeu as especulações políticas em Brasília. Segundo reportagem do jornalista Claudio Dantas, a ministra Cármen Lúcia confidenciou a pessoas próximas que estuda antecipar sua saída da Corte, repetindo o gesto de Luís Roberto Barroso, que deixou o tribunal recentemente em meio a homenagens.
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De acordo com a apuração, Cármen Lúcia tem citado o desgaste emocional acumulado ao longo de quase vinte anos no STF como principal motivo da reflexão. A ministra, que completaria o mandato em 2029, estaria buscando formas alternativas de lidar com o estresse, como práticas espirituais e terapias integrativas, incluindo o Reiki — técnica que combina meditação e imposição das mãos para equilíbrio energético.
Fontes próximas também afirmam que a ministra teme impactos políticos e financeiros após ter seu visto americano revogado pela Casa Branca, situação semelhante à enfrentada pelos ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, que foram citados em listas de monitoramento da Lei Magnitsky — legislação dos EUA que prevê sanções por supostas violações de direitos humanos e corrupção.
Cármen Lúcia, que não teria planos de deixar o país, teme que possíveis bloqueios patrimoniais decorrentes da lei atinjam autoridades brasileiras investigadas por abuso de poder.
Outro fator que pesa na decisão seria o comprometimento da ministra com a representatividade feminina na mais alta instância do Judiciário. Com a saída de Rosa Weber, Cármen tem defendido internamente a presença de mais mulheres na Corte e teria articulado com apoio de Janja Lula da Silva a indicação de uma sucessora mulher para a vaga aberta com a aposentadoria de Barroso.
Voto decisivo contra Bolsonaro
Durante o julgamento do primeiro núcleo da trama golpista de 8 de janeiro, Cármen Lúcia teve papel decisivo ao formar maioria pela condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de ex-integrantes de seu governo.
Em sua manifestação, a ministra reforçou o voto de Alexandre de Moraes e destacou a dimensão histórica do julgamento:
“Seria quase o encontro do Brasil com seu passado, com seu presente e com seu futuro. Nossa República tem um melancólico histórico de termos poucos republicanos e, por isso, a importância de cuidar do presente processo.”
Cármen Lúcia classificou os ataques às sedes dos Três Poderes como “um atentado planejado contra a democracia” e elogiou a atuação da Procuradoria-Geral da República na coleta das provas que fundamentaram a condenação.
Nos bastidores, a possível aposentadoria é vista como mais um movimento de reconfiguração do STF, num momento em que o tribunal enfrenta tensões políticas e pressões externas, especialmente nas relações com os Estados Unidos e setores conservadores do Congresso.