Donald Trump autoriza operações secretas da CIA na Venezuela e aumenta risco de conflito na América do Sul

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“Se os EUA realmente atacarem, será a primeira intervenção militar direta na América do Sul em mais de um século. Foto RS/Fotos Publicas

EUA mobilizam navios e bombardeiros próximos ao território venezuelano sob pretexto de combater o narcotráfico; especialistas apontam tentativa de derrubar Maduro e controlar petróleo do país


Por Sandra Venancio

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou nesta quarta-feira (15) que autorizou a CIA a conduzir operações secretas na Venezuela e que estuda ataques terrestres contra cartéis de drogas. A declaração, feita durante coletiva na Casa Branca, eleva a tensão diplomática entre Washington e Caracas e reacende o temor de uma intervenção militar direta em solo sul-americano.

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Segundo fontes do Departamento de Defesa, oito navios norte-americanos e um submarino nuclear estão posicionados no sul do Caribe, próximos à costa venezuelana. O governo norte-americano afirma que a movimentação faz parte de uma “operação antinarcóticos”, mas analistas veem indícios de uma ofensiva política e militar para enfraquecer o regime de Nicolás Maduro.

Escalada militar no Caribe

Desde agosto, os Estados Unidos intensificam sua presença militar na região, com bombardeios a embarcações suspeitas de tráfico internacional de drogas. De acordo com Trump, cada ataque teria como objetivo “salvar vidas americanas”, ao impedir o envio de entorpecentes ao país. Entretanto, organizações internacionais, como a Human Rights Watch, classificam as ações como “execuções extrajudiciais ilegais”, violando tratados internacionais.

Nesta semana, três bombardeiros B-52, com capacidade nuclear, sobrevoaram a região de informação de voo venezuelana, num gesto interpretado por especialistas como provocação direta e teste das defesas aéreas do país.

Maduro denuncia “golpe da CIA”

Em pronunciamento na televisão estatal, Nicolás Maduro acusou o governo norte-americano de promover um “golpe de Estado da CIA” e alertou para o risco de uma guerra regional. “Chega de golpes e invasões. Não aceitaremos que se repitam tragédias como as do Iraque e da Líbia”, declarou.

O Ministério das Relações Exteriores da Venezuela divulgou nota oficial chamando as falas de Trump de “belicistas e extravagantes” e denunciando a tentativa dos EUA de “legitimar uma mudança de regime para se apropriar dos recursos petrolíferos venezuelanos”.

Operações letais e guerra de narrativas

Reportagem do The New York Times revelou que as operações secretas autorizadas por Trump podem incluir ações letais da CIA contra líderes do governo venezuelano. Embora a Casa Branca negue planos de assassinato político, a publicação cita fontes que descrevem um plano de desestabilização interna apoiado por setores militares dissidentes e pela oposição em exílio.

Para o cientista político Maurício Santoro, especialista em relações internacionais, a retórica americana combina discurso de segurança nacional e guerra ao narcotráfico com interesses econômicos estratégicos, como o acesso às reservas de petróleo da Venezuela — as maiores do mundo, segundo o Relatório Mundial de Energia de 2025.

“Os EUA estão montando um cenário de legitimidade para uma ação armada. O uso do termo ‘narcoterrorismo’ cria o argumento moral e jurídico necessário para justificar uma intervenção”, avalia Santoro.

Condenação internacional e impasse diplomático

A escalada militar foi tema de debate no Conselho de Segurança da ONU, que expressou preocupação com possíveis violações de soberania e assassinatos de civis em águas internacionais. Enquanto isso, o governo venezuelano pediu investigação independente sobre os bombardeios que, segundo Caracas, atingiram pescadores locais.

Com canais diplomáticos praticamente fechados — após a rejeição de uma proposta de Maduro para negociar petróleo e minerais —, a crise entra em uma fase inédita desde a Guerra Fria.

Especialistas alertam que um confronto armado entre EUA e Venezuela teria impactos regionais imediatos, podendo envolver países aliados de ambos os lados e desestabilizar o equilíbrio geopolítico da América do Sul.

“Se os EUA realmente atacarem, será a primeira intervenção militar direta na América do Sul em mais de um século”, conclui Santoro.

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