Lula e Sheinbaum alinham parceria estratégica para reduzir dependência dos EUA e agendam missão oficial de Alckmin ao México
Foto Ricardo Stuckert/PR
Em resposta às medidas unilaterais adotadas pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que anunciou tarifas de 30% sobre produtos mexicanos e 50% sobre exportações brasileiras, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Claudia Sheinbaum iniciaram uma articulação diplomática inédita para fortalecer os laços econômicos entre Brasil e México e buscar alternativas conjuntas à crescente instabilidade nas relações comerciais com Washington.
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Durante uma conversa telefônica realizada nesta quarta-feira (23), Lula e Sheinbaum acertaram uma estratégia comum para ampliar o comércio bilateral, fortalecer cadeias produtivas integradas e estimular a reindustrialização regional com base na soberania tecnológica e energética. Como resultado prático imediato, foi definida para os dias 27 e 28 de agosto a realização de uma missão oficial brasileira ao México, liderada pelo vice-presidente e ministro da Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, acompanhado por uma comitiva de empresários e ministros.
A decisão marca um gesto político e econômico claro em direção à integração latino-americana, num momento em que os dois maiores mercados da região buscam reduzir sua vulnerabilidade frente a decisões externas que afetam diretamente suas economias.
Aliança contra o protecionismo norte-americano
As novas tarifas anunciadas por Trump, que é novamente candidato à presidência dos Estados Unidos, acenderam um alerta nas capitais latino-americanas. No Brasil, o governo viu a medida como uma retaliação política disfarçada de decisão econômica, impactando especialmente setores como aço, alumínio, carne bovina e celulose. No México, as tarifas atingem setores automotivo, eletrônico e agrícola — pilares da economia do país.
Lula e Sheinbaum condenaram publicamente o protecionismo agressivo de Trump e afirmaram que não aceitarão passivamente a imposição de barreiras comerciais que prejudiquem suas populações e enfraqueçam o multilateralismo.
“É hora de olharmos para dentro da América Latina e construirmos nossa própria força produtiva. A dependência nos torna vulneráveis”, disse Lula, segundo nota do Palácio do Planalto. Sheinbaum, por sua vez, afirmou que o México está “comprometido com uma nova diplomacia econômica latino-americana baseada em cooperação, justiça e soberania”.
Missão liderada por Alckmin terá foco produtivo
A comitiva que irá ao México nos dias 27 e 28 de agosto terá representantes dos ministérios da Fazenda, Agricultura, Ciência e Tecnologia, Relações Exteriores e Planejamento. A expectativa é que sejam firmados acordos bilaterais nos setores de indústria automotiva, agronegócio, transição energética, semicondutores e digitalização.
Segundo o Ministério da Indústria e Comércio, a missão terá como objetivo:
- Ampliar o intercâmbio comercial entre os dois países;
- Atrair investimentos cruzados em inovação e infraestrutura;
- Criar políticas industriais coordenadas para enfrentar choques externos;
- Fortalecer cadeias regionais de valor na América Latina.
O México é hoje o segundo maior parceiro comercial do Brasil nas Américas, atrás apenas dos Estados Unidos, e essa nova etapa da relação promete abrir caminho para uma parceria mais estratégica e menos dependente de fluxos externos instáveis.
Integração regional em pauta
A conversa entre Lula e Sheinbaum também abordou a necessidade de revitalizar blocos regionais como a CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) e a UNASUL, além de propor um fórum econômico latino-americano permanente, nos moldes do G20, para a coordenação de políticas industriais, energéticas e climáticas.
A iniciativa se soma a uma série de gestos recentes de retomada da diplomacia sul-americana, com o Brasil voltando a ter protagonismo na construção de uma agenda comum para o desenvolvimento regional.
Segundo fontes da diplomacia brasileira, a aliança com o México tem o potencial de gerar um eixo econômico alternativo ao domínio histórico dos EUA sobre os fluxos comerciais latino-americanos, reforçando o conceito de uma América Latina mais autônoma e integrada.