Tratativas Indiretas no Egito buscam libertação de reféns e cessar-fogo em plano costurado pelos EUA
Por Sandra Venancio – Foto RS Fotos/Via Fotos Publicas
Delegações de Israel e do grupo palestino Hamas retomam nesta segunda-feira (6 de outubro de 2025) no Cairo, Egito, as negociações indiretas que visam o fim da guerra na Faixa de Gaza, às vésperas de o conflito completar dois anos. O foco central das novas rodadas de conversas, mediadas pelo Egito e pelos Estados Unidos, é um plano de paz elaborado pelo presidente americano, Donald Trump, que estabelece os termos para a libertação imediata de todos os reféns israelenses, um cessar-fogo e a desmilitarização de Gaza.
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O Contexto das Negociações
A iniciativa americana surge em um momento de intensa pressão diplomática para um acordo, após quase dois anos de um conflito devastador que, segundo autoridades de saúde palestinas, já causou mais de 67 mil mortes e uma crise humanitária generalizada.
- Plano Trump: A proposta dos EUA, já aceita por Israel, delineia um processo em fases. A fase inicial foca na libertação dos reféns, seguida pela desmilitarização de Gaza e a criação de um governo de transição não ligado ao Hamas. O plano prevê que militantes do Hamas que aceitem a coexistência pacífica e entreguem suas armas possam receber anistia.
- A Resposta do Hamas: O grupo palestino deu uma resposta “positiva”, concordando em princípio com a libertação imediata de todos os reféns em troca de prisioneiros palestinos. No entanto, o Hamas solicitou mais negociações sobre os demais termos do acordo, especialmente aqueles que dizem respeito à sua exclusão da futura governança de Gaza e ao desarmamento.
- Ultimato e Pressão: O presidente Donald Trump exerceu forte pressão sobre o Hamas, estabelecendo o domingo (5) como prazo limite para a aceitação. O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, indicou que “90% do acordo está concluído” e que o foco agora é finalizar a logística para a primeira fase. Trump chegou a ameaçar o Hamas com “obliteração completa” caso o grupo rejeitasse a proposta e se recusasse a entregar o poder.
Pontos de Tensão e Obstáculos
Apesar do otimismo de Washington e da movimentação das delegações — com a chegada da equipe israelense ao Cairo na noite de domingo e a presença de enviados americanos como Steve Witkoff e Jared Kushner —, pontos cruciais continuam a gerar atrito.
- Reféns em Primeiro Lugar: O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, deixou claro que não avançará com nenhum outro termo do acordo enquanto todos os cerca de 50 reféns israelenses (vivos e mortos) não forem libertados e cruzarem a fronteira de Gaza.
- Continuidade dos Ataques: O Hamas denunciou que Israel continuou com os bombardeios em Gaza durante o final de semana, com dezenas de mortos. Tanto Trump quanto Rubio pediram que Israel interrompa os ataques imediatamente para permitir a retirada segura dos reféns, mas o gabinete de Netanyahu manteve que os ataques prosseguirão até que um cessar-fogo esteja formalmente em vigor, reservando-se o direito de fazer breves pausas operacionais.
- Futuro de Gaza: As negociações também abordam a reabilitação da Faixa de Gaza e sua governança futura. O plano americano prevê um comitê de palestinos tecnocratas apolíticos para administrar o território, excluindo o Hamas de qualquer papel político ou militar. A desmilitarização de Gaza é uma exigência central de Israel.
A comunidade internacional e as famílias dos reféns observam as conversas no Cairo com cautela, na esperança de que a pressão americana e a aparente disposição inicial do Hamas para a troca de reféns possam, finalmente, levar a um avanço duradouro.