Lista com cerca de 700 exceções inclui petróleo, minério de ferro, suco de laranja e aviões; impacto da sobretaxa atinge 35,9% das vendas ao país
Por Sandra Venancio Jornal Local – Foto Wenderson Araujo/Trilux
Apesar do tarifaço de 50% imposto pelo governo de Donald Trump sobre produtos estrangeiros, o Brasil conseguiu preservar 44,6% de suas exportações para os Estados Unidos. A informação foi divulgada nesta quarta-feira (31) pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), que analisou o alcance da medida a partir da lista oficial de exceções publicada pela Casa Branca.
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Segundo os cálculos do Mdic, os produtos brasileiros que permaneceram fora da sobretaxa somam cerca de US$ 23 bilhões em exportações, com base nos valores embarcados nos últimos 12 meses. Esses itens fazem parte de uma lista com aproximadamente 700 produtos excluídos da nova tarifa de 50%, que continuará a aplicar alíquotas mais baixas — entre 5% e 10% — definidas anteriormente em abril.
Entre os principais produtos poupados estão o petróleo bruto, minério de ferro, celulose, suco de laranja e aeronaves, todos de alto peso na balança comercial brasileira com os Estados Unidos. De acordo com a pasta, a nova sobretaxa recairá sobre apenas 35,9% das exportações nacionais ao mercado norte-americano, com impacto maior em setores como máquinas, calçados, têxteis e alimentos industrializados.
Outros 19,5% das exportações brasileiras seguem submetidos a tarifas específicas, em vigor desde o primeiro mandato de Trump. São sobretaxas aplicadas com base em alegações de segurança nacional, atingindo principalmente autopeças, automóveis e itens de tecnologia sensível. Esses produtos pagam até 25% para entrar nos Estados Unidos desde maio de 2025, em linha com medidas similares aplicadas contra países como México, Alemanha e China.
A decisão da Casa Branca de manter tarifas mais brandas sobre parte significativa das exportações brasileiras foi recebida com alívio pelo governo Lula. Técnicos do Itamaraty e do Mdic, que atuaram nos bastidores para defender os interesses nacionais, destacaram que a inclusão de itens como petróleo e minério entre as exceções reflete a importância estratégica do Brasil como fornecedor de commodities para os EUA.
No entanto, representantes do agronegócio demonstraram preocupação com o possível impacto da medida sobre cadeias exportadoras específicas. Embora o suco de laranja tenha sido poupado, outros derivados da agroindústria, como carnes processadas, queijos e conservas, foram incluídos na nova taxação e podem enfrentar perda de competitividade.
O Mdic divulgou uma tabela do efeito do tarifaço e da lista de exceções sobre as exportações brasileiras para os Estados Unidos: Com base nos valores vendidos em 2024:
Exportação brasileira aos EUA em 2024:
Categoria | Valor (US$ bilhões) | Participação (%) |
Produtos sujeitos à ordem executiva de 30/07 (tarifa adicional de 10% + 40%) | 14,5 | 35,9% |
Produtos na lista de exceções (tarifa adicional de até 10%) | 18 | 44,6% |
Produtos sujeitos a tarifas específicas, aplicadas a todos os países | 7,9 | 19,5% |
Total | 40,4 | 100% |
O governo brasileiro deve continuar monitorando os efeitos do tarifaço e promete reforçar sua atuação junto à Organização Mundial do Comércio (OMC) e por meio de negociações bilaterais para proteger as exportações nacionais e mitigar possíveis prejuízos.
O tarifaço de Donald Trump foi anunciado como parte de uma estratégia para “proteger a indústria e os empregos americanos”, mas tem gerado reações negativas de parceiros comerciais em várias partes do mundo. A expectativa é de que as medidas sejam reavaliadas após as eleições presidenciais norte-americanas, previstas para novembro.