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Instituto inicia nesta terça contagem na natureza de uma das aves mais ameaçadas do planeta

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Começa nesta terça-feira (14) mais um censo populacional de uma das espécies mais ameaçadas de desaparecer do planeta: a arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari). O trabalho está a cargo de uma equipe do Instituto Chico Mendes (ICMBio) que atua no Centro Nacional de Pesquisa para a Conservação das Aves Silvestres (Cemave). Esta é a primeira contagem de 2009. Esse tipo de levantamento é feito desde 1979.

De lá para cá, graças à atuação dos servidores ambientais, a situação dessa ave tem melhorado muito. Na catalogação inicial foram registrados apenas 60 indivíduos ante os 900 adultos verificados em 2008, sem contar os cerca de 150 filhotes que preparam os primeiros voos.

Se a situação se mostrar ainda melhor, a ave deve deixar a lista vermelha de extinção ainda neste ano, segundo o biólogo e analista ambiental do ICMBio, Kléber de Oliveira, um dos responsáveis por esse trabalho.

A arara-azul-de-lear habita exclusivamente o semiárido baiano, na região de Jeremoabo, norte do estado. Ela constrói seus ninhos nas cavidades naturais dos paredões de arenito localizados na parte sul da Estação Ecológica (Esec) Raso da Catarina, nos sítios reprodutivos conhecidos como Toca da Velha, no município de Canudos e Serra Branca, no interior da própria estação.

Dados do Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, do Ministério do Meio Ambiente, apontam que a principal ameaça à essa ave é a captura para o comércio ilegal, além da redução da palmeira licuri, cujo coco é o mais importante alimento para ela. Apesar disso, os pesquisadores estão bem animados com a resistência da espécie.

OITENTA NINHOS – Os biólogos Kléber de Oliveira e Antônio Eduardo Barbosa, outro responsável por acompanhar o ciclo 2008-2009, mapearam quase 80 ninhos nas últimas visitas aos locais onde habitam. Eles estão muito otimistas por causa do histórico de filhotes que voaram ao longo dos anos de monitoramento. “Entre a postura do ovo e o nascimento do filhote conta-se mais ou menos 87 dias. Tanto no ciclo de 2004-2005 quanto no de 2005-2006, cerca de 80 filhotes saíram nos ninhos”, informa Kléber.

Se o cenário continuar como o observado de 2006 para 2008, quando foi feito o último censeamento, a situação de vida da arara-azul-de-lear está muito bem. Segundo números do Cemave, num intervalo de dois anos a quantidade de indivíduos registrados subiu de 652 para 900. “O sucesso reprodutivo é indicado pelo número de aves que voaram, geralmente duas por ninho. Notamos claramente os sinais de recuperação desses animais e trabalhamos para reduzir o status de ameaça. Isso é muito importante e bastante animador,” destaca Oliveira.

E os cientistas já estão com mochilas, cadernos de anotações, câmeras fotográficas e tudo mais prontinho para a incursão na Esec Raso da Catarina, para mais uma temporada de observações. A cada semana, durante três dias consecutivos, toda a movimentação de parte dos ninhos mapeados por eles nos últimos meses é atentamente acompanha. Com binóculos nas mãos ou em cima dos galhos das árvores mais altas, as mais próximas dos paredões, Kléber e Eduardo ficam de olho no vai-e-vem das aves que partem para as áreas de alimentação. Eles também observam cautelosamente a vigília dos casais cujas ararinhas se preparam para voar.

A atividade dos pesquisadores começam bem cedo, antes mesmo que o sol dê o ar da graça. “Identificamos as cavidades nas quais a visitação e zelo das aves eram intensos, indicando a presença dos ovos, uma média de três por casal. Agora, esperamos com ansiedade a saída dos filhotes”, detalha Kléber de Oliveira.

A dinâmica de vida desses animais é bem previsível, pois, normalmente, ao raiar do dia saem voando, sempre em duplas. “São aves monogâmicas, se relacionam com apenas um parceiro para o resto da vida. Quando adultos chegam a medir de 70 a 75 centímetros. Os casais em nidificação saem somente para procurar alimento, sempre perto das cavidades nas quais os filhotes estão protegidos de possíveis predadores. É uma espécie muito arisca, principalmente durante esse período, e abandonam o ninho ao menor sinal de perigo. Por isso, temos muito cuidado em observar sem sermos notados pelos bichos,” explica Oliveira.

O ICMBio, por intermédio do Cemave coordena as ações de campo do programa de conservação e manejo da espécie desde 2001, quando foi criada a base para pesquisas sobre a arara-azul-de-lear no município de Jeremoabo, na Bahia. Anualmente a equipe atua em conjunto com colaboradores da Fundação Biodiversitas, Estação Ecológica Raso da Catarina e biólogos contratados. Os especialistas fazem o censo populacional simultaneamente nos dois dormitórios conhecidos em Jeremoabo e em Canudos. Tudo é feito minuciosamente para evitar riscos aos animais adultos e aos filhotes.

Também contam com o auxílio de voluntários do município de Jeremoabo, pessoas da comunidade que têm interesse e aptidão em participar das atividades de campo. Elas são consideradas multiplicadoras das ações de conservação executadas pelo Instituto Chico Mendes. “O crescimento populacional da espécie, juntamente com dados reprodutivos, podem retirar ainda este ano a espécie do estado crítico de ameaça. Isso graças às ações de educação ambiental do programa, contando principalmente com o apoio da comunidade local”, conclui Kléber de Oliveira.

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