
Deputado atua nas redes para impedir reaproximação diplomática entre Lula e Trump em meio à disputa sobre tarifa de 50% a produtos brasileiros
Por Sandra Venancio
A poucas horas da reunião marcada entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, em Washington, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) intensificou uma campanha nas redes sociais para tentar sabotar o encontro. A reunião, prevista para esta quinta-feira (16), deve tratar do tarifaço de 50% imposto pelo governo Donald Trump a produtos brasileiros, e busca restabelecer o diálogo comercial entre os dois países.
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Em queda de influência e cada vez mais isolado politicamente, Eduardo publicou nesta quarta (15) uma série de mensagens em seu perfil no X (antigo Twitter) tentando provocar um “desencontro” entre as delegações. O parlamentar afirmou que as tarifas impostas pelos EUA “não são uma questão comercial, mas de direitos humanos”, alegando perseguições judiciais e censura no Brasil — uma retórica que repete a narrativa bolsonarista de “lawfare” e “prisões políticas”.
Segundo apuração, Eduardo teme que a reaproximação diplomática entre Lula e Trump resulte em sua expulsão dos Estados Unidos, onde se refugiou politicamente após a condenação de seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, a mais de 27 anos de prisão por liderar a tentativa de golpe de Estado em 2022. Caso retorne ao Brasil, o deputado deve enfrentar processos judiciais que podem resultar em sua prisão.
Durante as declarações, o filho do ex-presidente mencionou o secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, e o representante comercial dos EUA, Jamieson Greer, afirmando que ambos justificaram a tarifa como uma “resposta política e de direitos humanos”, e não apenas econômica. Segundo ele, os EUA estariam reagindo a “ordens secretas de censura” e “prisões ilegais de cidadãos americanos” durante o governo Lula.
Nos bastidores, diplomatas brasileiros avaliaram as postagens de Eduardo como uma tentativa explícita de interferência nas relações bilaterais e uma aposta desesperada para recuperar protagonismo no campo bolsonarista internacional.
A avaliação em Brasília é de que o parlamentar tenta evitar um entendimento entre Lula e Trump, especialmente depois que o republicano — em tom surpreendente — fez declarações públicas elogiando o presidente brasileiro por sua postura “moderada e pragmática” nas negociações comerciais.
A reunião entre Marco Rubio e Mauro Vieira é considerada estratégica: além de discutir o tarifaço, deve tratar da cooperação agrícola, energética e de segurança hemisférica. Caso o diálogo avance, o governo brasileiro espera o início de um processo gradual de redução de tarifas e reabertura de canais diplomáticos, o que representaria uma derrota simbólica para o grupo bolsonarista nos EUA.
Isolamento e medo de extradição
Fontes diplomáticas ouvidas pelo Jornal Local avaliam que Eduardo Bolsonaro teme ser expulso dos Estados Unidos caso o diálogo entre Lula e Trump avance. O deputado vive entre Washington e Miami desde o agravamento das investigações que envolvem sua família, e pode ser preso imediatamente caso volte ao Brasil.
https://x.com/lazarorosa25/status/1958680616095948990
Seu pai, Jair Bolsonaro, foi condenado a mais de 27 anos de prisão por liderar a tentativa de golpe de Estado em 2022, e a situação jurídica dos filhos é considerada “de risco iminente”.
Elogios de Trump a Lula irritaram bolsonaristas
O estopim para a ofensiva de Eduardo foi a aproximação inesperada entre Donald Trump e Lula. O republicano fez elogios públicos à “moderação e pragmatismo” do presidente brasileiro na condução da política comercial, o que teria causado indignação entre aliados bolsonaristas nos Estados Unidos.
A reunião entre Rubio e Vieira é considerada estratégica e deverá abordar, além do tarifaço, temas como cooperação agrícola, energética e segurança hemisférica. Segundo o Itamaraty, o governo brasileiro busca reverter gradualmente a tarifa de 50% e reabrir os canais diplomáticos paralisados desde 2021.