Diz o ditado popular que “o pior cego é aquele que não quer ver”. Surpreendidos por uma crise financeira internacional que sem dúvida alguma já dava indícios há alguns meses, países e indivíduos foram remetidos a um inevitável questionamento do tipo ‘o que é que está acontecendo’. Mas será que todo esse processo que vem se desenvolvendo há semanas possui uma origem estritamente financeira? Por mais incrível que possa parecer à primeira vista, acredito que a fonte mais básica e fundamental, a origem mesma de toda essa instabilidade econômica esteja associada também a aspectos emocionais mais profundos, não só num sentido individual mas coletivo. O mundo vem se desenvolvendo tecnologicamente falando de uma forma como nunca antes vista pela humanidade. Seria de se imaginar que tanto progresso alcançado responderia às necessidades básicas que todo o ser humano tem de se sentir feliz e completo. Mas não é bem assim que acontece. Impelidos por uma vontade inata de realização, os indivíduos muitas vezes buscam assegurar a satisfação de serem amados, valorizados e protegidos, através de mecanismos de ordem material, que na verdade lhes permitem uma saciedade “real” apenas momentânea e muitíssimo longe de ser permanente. O que esta crise está vindo nos mostrar, entre outras coisas, é a necessidade de um questionamento mais profundo sobre meios e formas de sermos verdadeiramente felizes, o que sem dúvida alguma, está bastante conectado ao senso de valor e auto-estima que os indivíduos têm sobre si mesmos, e à percepção que se têm do que é realmente significativo em suas vidas. O consumismo desenfreado, a visão materialista nutrida e até mesmo estimulada pela sociedade, a necessidade do ‘ter’ em detrimento do ‘ser’, acabam por entrar em choque com os valores mais elevados, que por herança divina, todo ser humano naturalmente abriga em seu íntimo. De forma alguma quero dizer que o mundo material é supérfluo ou desnecessário. Vivemos em uma realidade concreta onde necessidades materiais se fazem presentes todos os dias, todavia, nossa felicidade se encontra para além dos limites da satisfação física, estando muito mais ancorada no sentido espiritual da Vida. Sendo assim, para aqueles que não consigam despertar de forma amorosa para essa realidade, será através de situações dolorosas como a crise financeira, a queda da bolsa e as perdas de bens, que os indivíduos em sua jornada evolutiva na terra serão “sacudidos” e levados a se questionarem a respeito do que é realmente válido e permanente em suas existências. Os frutos a serem colhidos e a forma como cada um construirá sua realidade, dependerá com toda a certeza, da escolha de cada um.
Monica Guberman Raza
Psicóloga Clínica
mcrstar@hotmail.com