Líder do Comando Vermelho na Penha tem 55 anos, 269 anotações criminais e comanda uma tropa armada com táticas militares
Por Sandra Venâncio — Jornal Local
O principal alvo da Operação Contenção, deflagrada na última terça-feira (28) no Complexo da Penha, Edgar Alves de Andrade, conhecido como “Doca” ou “Urso”, continua foragido. Aos 55 anos, o paraibano nascido em Caiçara (PB) é apontado como um dos homens mais perigosos e influentes do Comando Vermelho (CV) no Rio de Janeiro, com uma ficha criminal que soma 269 anotações e 26 mandados de prisão ainda ativos.
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Doca construiu sua trajetória no crime desde os anos 1990, quando chegou ao Rio e se integrou ao tráfico no Morro São Simão, em Queimados, na Baixada Fluminense. Ganhou fama pela violência extrema e pelo controle rígido das comunidades em que atua — impondo a chamada “Lei do Silêncio” e eliminando desafetos, rivais e até moradores que se opõem às ordens da facção.

Foi preso pela única vez em 2007, após 11 horas de confronto com a polícia na Vila Cruzeiro — ironicamente, no dia do próprio aniversário. Nove anos depois, em 2016, foi solto e retomou o comando do tráfico a convite do então chefe do CV, Elias Maluco, que o encarregou de administrar pontos de venda no Complexo da Penha.
Com a morte de Elias Maluco e de outros líderes em 2020, Doca ascendeu ao topo da hierarquia na Penha, área considerada o “coração operacional” do Comando Vermelho. De acordo com a Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), ele está hoje logo abaixo de Marcinho VP, preso na Penitenciária Federal de Campo Grande (MS).
A “Tropa do Urso”
Doca comanda um grupo paramilitar de elite conhecido como “Tropa do Urso”, formado por criminosos treinados em táticas de guerra e ex-militares. O grupo é responsável por instalar barricadas, monitorar acessos com drones e reagir de forma coordenada às incursões policiais. Segundo o secretário da PM, Marcelo Menezes, a tropa atua como um “exército do crime”, com disciplina militar e treinamento profissionalizado.
Entre os nomes mais próximos do chefe estão:
- Carlos Costa Neves, o “Gardenal”, considerado seu braço direito e executor de rivais;
- Pedro Paulo Guedes, o “Pedro Bala”, responsável pela logística e pela movimentação de armamentos;
- Washington César Braga da Silva, o “Grandão” ou “Síndico da Penha”, chefe da segurança pessoal de Doca;
- Juan Breno Ramos, o “BMW”, que treina jovens recrutas no uso de armas — como mostram vídeos interceptados pela polícia.
Expansão e domínio
Nos últimos anos, Doca ampliou sua influência para além da Penha, invadindo territórios antes dominados por milícias na Zona Oeste, especialmente no cinturão de Jacarepaguá. A facção passou a explorar, além do tráfico, serviços clandestinos de gás, internet, transporte e energia — uma estrutura paralela que movimenta milhões de reais mensais.
A polícia também atribui ao grupo a autoria de ataques a delegacias e assassinatos de rivais. Em abril, criminosos ligados à Tropa do Urso metralharam uma delegacia em Duque de Caxias numa tentativa de resgate frustrada. E em outubro de 2023, uma ação ordenada por Doca teria resultado na morte de três médicos na Barra da Tijuca, após o grupo confundir uma das vítimas com um miliciano rival.
Um alvo que segue solto
Mesmo após mais de um ano de monitoramento, a Polícia Civil não conseguiu prender Doca durante a Operação Contenção — que deixou 117 mortos e nenhum mandado de prisão cumprido. O governador Cláudio Castro reconheceu que os agentes sabiam onde o traficante estava escondido, mas que ele conseguiu fugir momentos antes da chegada das forças de segurança.
Foragido e cada vez mais temido, Doca representa hoje a consolidação de um poder paralelo armado e altamente organizado, sustentado por uma rede que combina terror, tecnologia e financiamento local. Seu paradeiro é incerto, mas a polícia acredita que ele permanece no estado, protegido por aliados e pela estrutura que ele próprio criou.




